• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM
Música Com Cabeça 0

Festival Para Gente Sentada não foi para canelas fracas

Por Nina Muschketat · Em 20/11/2019

Após uma década em Santa Maria da Feira, o Festival para Gente Sentada, motivado pela procura de um maior investimento, decidiu mudar a sua casa para Braga em 2015. Uma cidade que tem mostrado ser uma boa anfitriã, não desiludindo os ouvintes fiéis do festival. E também esta décima quinta edição, que decorreu entre os dias 15 e 16 de Novembro, não foi excepção.

O festival, co-organizado pela Ritmos, o Theatro Circo, o gnration e o município de Braga, direcciona-se para gente sentada mas não só: os concertos de sábado à tarde no gnration foram para gente levantada. No entanto, durante os concertos nocturnos (os principais) que decorreram no Theatro Circo, o mote foi “estar sentado e curtir a abanar a cabeça”. Tal reproduziu uma visão deliciosa de cabeças de todos os tipos e medidas num movimento conjunto de frente para trás (ou de trás para a frente). De repente, acordámos todos, na nossa cadeira, transformados em insectos-galinhas.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

A primeira noite foi composta pela banda portuguesa Sensible Soccers, responsáveis pela abertura do festival, e Kamaal Williams, artista britânico que, embora tenha sido o último a ser convidado para actuar (dado a desistência inesperada de Jonathan Wilson), não acusou a pressão – muito pelo contrário.

Os Sensible Soccers apresentaram o seu terceiro álbum, Aurora, lançado em Março deste ano. Uma mistura de sonoridades envolventes a esboçar uma aurora com resquícios do crepúsculo da noite anterior – sensibilidades, ainda que poderosas, a saberem a nostalgia. Também a participação do violinista Zé, convidado especial para a ocasião, começou por nos levar até um espaço meditativo, num monte calmo nos orientes, onde tudo está e é uno. Num fechar de olhos, e já a banda nos enviava para outro sítio. O público, embora ainda aquém do número de pessoas e da energia atingidos mais tarde, não deixou de se manifestar satisfeito.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Kamaal Williams, de dedos já enraizados nas teclas, coaduna o jazz contemporâneo e experimental com toques do funk e do soul, e veio a Braga acompanhado por um saxofonista, um baterista e um guitarrista. Muito interactivos e constantemente a puxar o público ao momento presente, os quatro aparentaram estar a brincar com os sons produzidos, lançando as ondas de uns para outros, contagiando a plateia com os seus ritmos. “Time for one more?”: que pergunta, claro que há sempre tempo para tal. Que assim seja: “One more time for you, Portugal”.

O sábado foi um dia de concertos muito nutritivo, quando transposto para uma noção simultânea de reconforto e de energia revolucionária, que se sentiu borbulhar por dentro da “gente sentada” ao longo do dia. A tarde foi passada no espaço gnration e, à noite, retornou-se ao Theatro Circo, cuja beleza delicada do espaço a ninguém escapa. Nestes dias de partilha com artistas do mais variado espírito musical, deparámo-nos com o poder que a música exerce sobre o ser humano, capaz de simplesmente nos pegar pela mão e levar-nos com ela: num momento podemos estar todos unidos numa mesma energia a gritar “Diga não”, enquanto noutro já nos estamos a retrair numa isolação contemplativa.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Num sobrepor de batidas, ritmos e voz, Afonso Dorido – aka Homem em Catarse – e a sua guitarra apresentaram-nos temas dos seus últimos discos – tais como “Fazunchar” ou “(Não és) Açor” -, outros mais antigos – como “Teremos sempre Paris” – ou canções ainda não editadas – como “Lembro-me de ti mesmo quando não me lembro” ou “Danças Marcianas”. Além da sua coordenação admirável e da capacidade de encher o palco apenas com 10 dedos e um sintetizador, Afonso Dorido compõe as suas canções de uma forma que alegra a nostalgia catártica com toques de esperança. Também foi possível denotar que o artista gosta realmente do que faz, algo manifestado nos prolongados fechares de olhos e esgares descontrolados das pernas, ao ponto de se recear que a cadeira o deixasse ficar mal. Este desfrutar foi, também, reproduzido em palavras, no qual Afonso afirmou estar “muito agradecido por estar aqui, como sempre quando estou a fazer aquilo que mais gosto”.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Little Friend e Bia Maria actuaram à mesma hora. Parecendo precisar de um pequeno amigo, muitos foram os que se decidiram pelos primeiros. Um “Eles” que se revelou um “Ele”, “abandonado” pelos outros membros da banda, pelo que afinal foi ele a precisar de amigos. E teve-os. O concerto do luso-britânico John Almeida no espaço Café-Concerto RUM acabou por gerar uma atmosfera mais tranquila, a animar conversas de café. Tocando as canções do novo disco A Substitute for Sadness (2019), o artista pareceu distante, quase até a menosprezar a sua própria presença no palco, mas o seu sentido de humor aguçado (“nós somos os Little Friend, e aquela é a máquina de café”, disse enquanto o bar preparava – sim – cafés) e sinceridade tornaram o momento verdadeiramente agradável. Um concerto onde aparentou faltar alguma coisa, talvez sal, mas, partindo de um olhar de fora, até que correu bem; e, quando se o repensa, repensa-se com um sorriso: “Queríamos tocar muitas mais músicas, mas a máquina de café está cansada”.

Um saltinho até à Bia Maria ainda permitiu ouvir a sua doce e bonita voz. A artista mescla pop, bossa nova e música tradicional portuguesa, num estilo muito próprio. Já com o tempo a fugir-lhe pelas mãos, Bia não desperdiçou os últimos dois minutos que lhe restavam, alegando serem “perfeitos para duas canções”.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Ainda que tenha sido um salto de Bia para Bia, é difícil arranjar salto maior do que passar de Bia Maria para Bia Ferreira. Se a primeira nos envolveu num planeta cor-de-rosa, Bia Ferreira levou-nos para o meio da revolução no Brasil, do combate ao racismo e à fobia LGBT: “O Brasil é o país que mais mata LGBT’S no mundo e é o país que a cada 23 minutos assassina um jovem negro”. Com apenas 26 anos, Bia Ferreira é uma mulher e bananas – o seu discurso consegue puxar os mais inactivos e saturados pela incidência actual do tema, e a sua voz é de uma força espantosa que chama por tudo e todos. “Salve todas as mulheres pretas, porque Deus é mulher, e é uma mulher preta”.

A cantautora proporcionou-nos um concerto de tanto ardor, onde tudo parecia bater certo. Tocando nos assuntos mais sensíveis com olhos revolucionários, Bia passou-nos uma forte mensagem: “Estou aqui para dar as notícias que o jornal não passa, para incomodar um pouquinho com as informações que estão rolando, porque se nós fizermos barulho lá e vocês cá… vai dar mais barulho, não?”. E nós entendemo-la, assim como não a vamos esquecer. Ainda tão jovem e já com uma bagagem tão definida – “aja, sinta, ame do seu jeito, sinta orgulho no seu peito”. A temática foi muito sensível, o concerto tocou na pele de todos e a luta de Bia Ferreira tornou-se na nossa luta. Se não para sempre, ao menos nos breves momentos após o concerto – e pequenos passos podem tornar-se adultos.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

De volta ao Theatro Circo, foi hora de seguirmos com O Terno e John Grant, numa linha musical que aqueceu e adoçou corações. Os brasileiros Tim Bernardes, Guilherme d’Almeida e Biel Basile, uma tripla angelical vestida de branco, tocaram canções como “Pegando Leve”, “Eu vou” e “Volta”. Envolvendo o teatro em melodias suaves e tão ternas, foi pena que tivessem tido de acabar de forma tão abrupta por causa do cumprimento dos horários. A “gente sentada” bem se mostrou desejosa de mais músicas, mas teve de se contentar com John Grant. O que, de modo algum, foi razão para desmotivo – John Grant prolongou o concerto até muito depois da meia-noite.

Festival Para Gente Sentada, Deus Me Livro, Reportagem, Sensible Soccers, Kamaal Williams, Homem em Catarse, Bia Maria, Little Friend, Bia Ferreira, O Terno, John Grant, Ritmos, gnration, Theatro Circo, RUM

Com o seu piano e um acompanhante também teclista, John Grant expandiu a sua poderosa voz pelo teatro. “Global Warming”, “I Wanna Go to Marz”, “Vietnam” ou “GMF” foram alguns dos muitos temas que se ouviram. Um concerto verdadeiramente digno de fecho do festival, tanto pela sua profundidade heróica como pela forma com que o público reagiu: recebeu o artista de uma forma muito calorosa, cantou e esteve sempre com ele até ao último tema.

Um festival de tal forma rigoroso na sua definição, que impeliu festivaleiros dançantes a sentarem-se, mesmo sem ninguém atrás deles. Tão aberto na sua programação e especial na sua forma de ser, agora bracarense. No final, ficou a vontade de “fazunchar” com Afonso, de nos movermos com Kamaal, de lutar com Bia, de amar com O Terno e de pensar como John.

 

Fotos de Pedro Figueiredo (gentilmente cedidas pela organização).

Promotora: Ritmos

Bia FerreiraBia MariaDeus Me LivroFestival para Gente SentadagnrationHomem em CatarseJohn GrantKamaal WilliamsLittle FriendO TernoReportagemRitmosRUMSensible SoccersTheatro Circo

Nina Muschketat

Pode Gostar de

  • Ganavya, Nilam, Deus Me Livro, ZDB, B.Leza, Casa da Música, Música Com Cabeça

    Como é bela a terra de Ganavya (que poderemos avistar de Lisboa e Porto)

  • Super Bock Arena, MEO Arena, Sons em Trânsito, Deus Me Livro, Trovante, Música Com Cabeça

    O Trovante vai ao álbum de fotos mostrar-nos as memórias de um beijo

  • Nourished By Time, ZDB, Deus Me Livro, Música Com Cabeça

    Nourished By Time em modo Super Ballet na ZDB

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Música Com Cabeça

  • Ganavya, Nilam, Deus Me Livro, ZDB, B.Leza, Casa da Música,

    Como é bela a terra de Ganavya (que poderemos avistar de Lisboa e Porto)

    28/05/2025
  • Super Bock Arena, MEO Arena, Sons em Trânsito, Deus Me Livro, Trovante,

    O Trovante vai ao álbum de fotos mostrar-nos as memórias de um beijo

    28/05/2025
  • Nourished By Time, ZDB, Deus Me Livro,

    Nourished By Time em modo Super Ballet na ZDB

    28/05/2025
  • Primavera Sound Porto, Primavera Sound Porto 2025, Deus Me Livro

    O Primavera Sound Porto 2025 numa Playlist

    27/05/2025
  • Ageas Cooljazz, Ageas Cooljazz 2025, Deus Me Livro, Live Experiences,

    Ageas Cooljazz 2025 com cartaz fechado (e um novo espaço para domingos preguiçosos)

    27/05/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto