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Entrevista: Tio Rex

Por Pedro Miguel Silva · Em 03/05/2018

Assina no cartão de cidadão com o nome de Miguel Reis, mas é como Tio Rex que tem vindo a construir um universo folk muito próprio, seja na língua de Pessoa ou pedindo a gramática de empréstimo a Whitman. Depois de belíssimas rodelas como “Preaching to a Choir of Friends and Family” (2013), “5 Monstros” (2014) ou “Ensaio Sobre a Harmonia” (2015), chega agora a vez de “5 Tragedies”, um EP composto por cinco temas que trocam a introspecção pela expansão emocional, pelo menos no que à sonoridade diz respeito. A poucos dias do concerto no Cinema Charlot, em Setúbal (4 Maio, 22h00), estivemos à conversa com o Tio sobre tragédias, gramáticas, projectos futuros e o concerto onde vai jogar em casa.

5-tragedies_featured

Em 2014, tal qual o Potteriano Newt Scamander, elencaste os teus “5 Monstros” de estimação. Agora, um pouco à moda de Shakespeare, encenas musicalmente 5 tragédias. Podes desvendar um pouco o que está por trás de cada uma das canções do disco e que tragédias são afinal estas?

Creio que estas tragédias, mais do que a maioria das canções de discos anteriores, surgem de um choque com o exterior. Pela primeira vez explorei mais a minha revolta, apontando o dedo a algumas regras, forças e nuances da sociedade, por oposição a espelhar o efeito que forças externas produzem no meu interior. Nesse sentido, neste disco falo sobre a ganância e o oportunismo, as percepções e os julgamentos que temos/fazemos uns dos outros, o consumismo e os vícios, a perda e o fim de ciclos na vida. É um disco mais pesado e violento no seu conteúdo e nas texturas sonoras mas, ao mesmo tempo, é também o meu primeiro disco 100% composto por canções. À semelhança do “5 Monstros”, vejo-o como um livro de contos, onde cada uma das 5 histórias é um acto isolado, que acrescenta um ponto de vista directo e focado num aspecto específico da vida.

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Este será, muito provavelmente, o disco onde te fizeste rodear de mais instrumentos, alguns deles presentes pela primeira vez na tua discografia. Como foi gerir todo este lado sinfónico e transportá-lo das sessões de gravação para as versões finais?

Foi um desafio, mas altamente gratificante! Assim que decidi que o disco ia ser uma “colecção de tragédias”, meti imediatamente na cabeça que o mesmo teria que ter um registo sonoramente mais invasivo e cheio que os outros. Felizmente estou rodeado de amigos super talentosos, que perante o convite saltaram sem medo para dentro do barco e a coisa deu-se tranquilamente. Claro que gerir as gravações por parte de 8 músicos, à vez, foi um processo que levou o seu tempo, mas os desafios também já foram feitos com a consciência daquilo que cada canção pedia, bem como da sensibilidade de cada músico. Enviei-lhes as demos com alguns pointers ao nível daquilo que imaginei para cada canção, depois disso foi deixar que cada um explorasse o seu espaço nos diferentes temas.

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Tens alternado entre o português e o inglês, seja em discos inteiramente cantados numa das línguas ou misturando, numa mesma rodela, temas de ambas as gramáticas. Em “5 Tragedies” surge uma nova variante, onde o português e o inglês se fundem para cantar a história de um afundamento. Como funciona essa alternância quando compões, e como decides em que língua irá ser cantado um tema?

Tenho de admitir que não é algo muito consciente. A parte da escrita em Tio Rex não é uma coisa que controle totalmente. Nunca me sento umas horas para trabalhar numa canção. Quando saio com a guitarra para tocar na rua à noite, nunca sei se vai sair uma frase, uma canção, três, ou nada. Geralmente quando as estrelas se alinham e topo, no momento, que há qualquer coisa a precisar de sair, pego na caneta e no papel e tento deixar o estado de espírito e a impulsividade guiarem-na para onde ela tiver de ir, por oposição a deixar que a razão me leve a querer escrever “a canção perfeita”. Tende a ser a primeira frase que escrevo da canção a decidir tudo o que vem a seguir. No caso da Sinking of S.S. Friendship, por ser a canção que fecha o disco, quis que houvesse nela algum tipo de alívio do negrume que caracteriza este  EP. Como o João Mota (Um Corpo Estranho e Delamotta) tem um domínio incrível da escrita em português – e acaba por estar directamente ligado com os eventos descritos na canção -, tornou-se claro que teria de ser ele a “quebrar” este disco – todo cantado em inglês – com aquela quadra maravilhosa em português.

Pelo que sei tens os discos, pelo menos na esfera da imaginação, planeados a longo prazo. O que se seguirá agora?

Gostava de, ainda este ano, lançar um EP focado no banjo, que já tenho guardado na gaveta há algum tempo. Depois desse tenho planos para seguir a tradição que tenho vindo a manter, de trabalhar com os mesmos produtores num ciclo de EP+LP. Foi assim com o Hugo Martins, que produziu o “Tio Rex EP” e o “Preaching to a Choir of Friends and Family”, com o Bruno Mota e o João Máximo, que produziram o “5 Monstros” e o “Ensaio Sobre a Harmonia”, e agora com o Sérgio Miendes, que deu cartas no “5 Tragedies” e gostava que seguisse a tradição com um LP em inglês, para o qual já tenho metade das canções fechadas. Mais para a frente, o plano é voltar ao português. Tenho um disco inteiro composto instrumentalmente à espera de palavras. Mas uma coisa de cada vez. Se o tempo deixar, ainda tenho algumas coisas para dizer.

Na próxima sexta-feira tocas no Cinema Charlot, em Setúbal, depois de teres já palmilhado boa parte do norte e centro do país. Sentes que será um concerto diferente por jogares em casa – e ainda por cima tendo a teu lado a banda completa? 

Sem dúvida! Se, por um lado, já não toco na cidade há mais de um ano – e vai ser óptimo voltar a encontrar a malta que acompanha este projecto desde o primeiro concerto no Clube Setubalense, em 2012 -, por outro, um concerto de apresentação de um disco novo em Setúbal é sempre um bom termómetro para topar a malta nova a quem o projecto chegou nos entretantos. Fazer isto rodeado de vários amigos, num registo mais colado ao editado no disco, por oposição aos formatos mais despidos a solo e em duo, é ouro sobre azul. Isto já para não falar que o Cinema Charlot é uma sala mítica em Setúbal, onde sempre quis apresentar um disco. Resta-me agradecer à cidade e suas gentes pelo apoio contínuo que têm dado ao Tio e convidar todos a vir celebrar este novo bebé connosco. Vai ser festão!

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5 TragediesEntrevistaTio Rex

Pedro Miguel Silva

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