“Eu ando devagar, mas não ando para trás”, terá dito em tempos Abraham Lincoln. A carreira dos portugueses Minta & The Brook Trout tem seguido este mote, com um percurso pausado mas seguro, iniciado no já longínquo ano de 2008. O seu novo trabalho não podia, por isso, ter um nome mais adequado: “Slow”. Este terceiro longa duração sucede ao fantástico “Olympia”, de 2012, e as novas canções foram apresentadas a 26 de Fevereiro no pequeno auditório do CCB – reportagem e galeria fotográfica -, que marcou também a estreia ao vivo de uma nova formação. O Deus Me Livro lançou algumas questões a Francisca Cortesão, que é como quem diz a Minta.
Ao longo da tua carreira tens tocado com um número impressionante de músicos portugueses. Como é que essa bagagem se reflecte na evolução criativa dos Minta & The Brook Trout?
Tenho tido a sorte de tocar e cantar com músicos muito bons, quase todos portugueses, a começar pelos que fazem parte desta banda. Embora não saiba ao certo como isso se reflecte na escrita das canções e na maneira como as interpreto, certamente tenho aprendido com todos eles, para além do puro gozo que é colaborar com alguém que tem pleno domínio sobre a sua arte.
Este disco apresenta uma renovação na formação: o Bruno Pernadas substituiu o Manuel Dordio na guitarra eléctrica e entrou a Margarida Campelo para os teclados. Como é que esta mudança afectou (ou não) o som da banda?
A presença da Margarida sente-se talvez de forma mais imediata, porque até aqui tínhamos recorrido muito esporadicamente a teclados e neste disco acabámos por gravar teclas em quase todas as músicas – principalmente piano eléctrico (um Rhodes), mas também alguns órgãos e sintetizador. Para além disso, ela canta muitíssimo bem, pelo que se juntou inevitavelmente aos coros. O Bruno Pernadas, por seu turno, tem uma maneira inconfundível de tocar guitarra, de que sou fã desde que vi o primeiro concerto dos Julie & The Carjackers, nos idos de 2010. E como o Bruno e a Margarida tocam muito juntos (Julie, Real Combo Lisbonense, o projecto em nome próprio do Bruno, com o qual eu também toco) têm uma simbiose impressionante. Ao ouvir o disco há momentos em que não é fácil distinguir o piano eléctrico de uma da guitarra eléctrica do outro, e essa confusão agrada-me. O Manuel Dordio tem uma abordagem diferente às músicas, de que eu gosto muito, e que é talvez mais romântica – a ausência da guitarra dele, para quem conhece bem os discos anteriores, também distingue o som deste.
Explica-nos qual é a origem deste título: “Slow”?
Foi uma palavra que foi aparecendo nas letras, e que de alguma forma se sugeriu como título ainda antes de o disco estar terminado. Pareceu-nos – a mim e à Mariana Ricardo, que produziu o disco comigo – que encaixava bem.
Não é uma afirmação descabida dizer que és uma das nossas melhores escritoras de canções. A tua maneira de escrever tem mudado ao longo do tempo?
Agradeço! Tem mudado bastante, sim. Demoro mais a decidir que uma canção está acabada, dou mais atenção a tudo e ponho muito mais as primeiras ideias em causa do que quando comecei. E neste disco há várias canções que contam histórias, que é uma abordagem de que sempre gostei muito como ouvinte mas que ainda não tinha tentado.
Os Minta & The Brook Trout têm uma identidade gráfica muito vincada nos discos, através do trabalho do João Maio Pinto e do José Feitor. Fala-nos da capa de “Slow”: para onde se dirige aquele barco?
Fiquei muito contente com o trabalho gráfico que o José Feitor fez para este disco, tanto da capa e contracapa como das ilustrações do interior, que pela primeira vez tem as letras impressas. Talvez ele saiba para onde se dirige o barco, eu fico feliz de o ver ali a passar e a desenhar aquele S L O W na água.
Dave Grohl disse recentemente em entrevista que a melhor maneira de um músico ter sucesso não é em programas de talentos, ou a vender discos ou downloads. Segundo ele, a chave está em dar tudo por tudo nos concertos. Se deres o teu máximo em palco, as pessoas vão procurar-te seja em que plataforma for. Concordas? Qual é a importância dos concertos para os Minta?
Cada vez mais sinto que é um privilégio estar em palco em frente a um público atento, e que é muito importante fazer por merecer esse privilégio dando o melhor concerto possível.
Imagina que um génio da lâmpada te dava a oportunidade de ter qualquer banda a abrir um concerto para os Minta. Quem é que escolhias?
Preferia que fossemos nós a abrir uma tournée europeia de uma banda ou artista não-europeu, se o génio da lâmpada estivesse bem-disposto! Haveria muito por onde escolher. Podia ser um canadiano como o Daniel Romano, uma norte-americana como a Neko Case ou um brasileiro como o Rodrigo Amarante, por exemplo.
Qual foi o último concerto a que assististe, puramente como espectadora?
Um dos últimos foi na SMUP, um sítio muitíssimo simpático na Parede. Têm um sótão com uma acústica fenomenal e fazem lá alguns espectáculos para poucas pessoas – ouvi lá um belo concerto do João Lobo (bateria) e do Eduardo Raon (harpa).
Ainda és consumidora de discos físicos? Ou és fã do streaming?
Consumo discos das duas formas, e também compro alguns digitais, sobretudo através do Bandcamp.
Os Minta têm ligações fortes a uma série de outras bandas e projectos paralelos, fora as dezenas de colaborações com outros músicos contemporâneos. Achas que há uma geração de ouro na música moderna em Portugal?
Se não é de ouro, parece! É um luxo fazer parte dela, sinto-o muitas vezes. Há gente a fazer música maravilhosa dentro de todos os géneros que conheço. E há também uma enorme abertura a colaborações que não se limita a estilos musicais nem a geografias.
O que podemos esperar dos Minta & The Brook Trout nos próximos tempos, depois do concerto do CCB e do lançamento de “Slow”?
Mais concertos, a anunciar em breve.
Fotografias de Vera Marmelo.
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