Os Eagles of Death Metal são a banda de Josh Homme e Jesse Hughes. Não soam como os Eagles, nem sequersão uma banda de Death Metal. Mas já lá vamos.
Josh Homme é um rocker muito ocupado. É o líder e mentor dos enormes Queens of The Stone Age. Toca guitarra e canta nos Them Crooked Vultures. É ainda um produtor de créditos firmados. Já tocou com P. J. Harvey, com os U.N.K.L.E. e dezenas de outros músicos. No meio de todos estes afazeres, Homme ainda compõe e toca bateria nos Eagles of Death Metal, banda que formou em 1998 com o seu amigo de infância Jesse “The Devil” Hughes.
Hughes é também ele um “cromo” do rock: coberto de tatuagens e o aspecto de quem saiu há pouco do set da série Sons of Anarchy, ostenta um épico bigode à estrela porno dos anos 70 (o que não é de todo descabido, uma vez que namora com a antiga estrela de filmes adultos Tuesday Cross) e é um animal de palco.
O novo disco “Zipper Down“ (Downtown Recordings, 2015) é pura diversão da primeira à última faixa. Antes de mais para os músicos, pois nota-se que o projecto é encarado por ambos com um gozo indisfarçável. E, claro, diversão para nós, os ouvintes. A banda é a antítese do pretensiosismo hipster: não se levam nada a sério e não têm nenhum medo do ridículo – as entrevistas e os vídeos de promoção são verdadeiros compêndios de hilariantes disparates.
Apesar do peso de Homme na cena musical actual ser indubitavelmente maior, este projecto tem em Hughes o seu centro: o rocker gingão e decadente nasceu para ser uma estrela, e a sua biografia rock’n’roll é genuína, com pancadaria, drogas duras e reabilitações à mistura. Paradoxalmente é um cristão devoto, e foi recentemente ordenado Pastor de uma igreja protestante. O cantor não encontra nessa contradição nenhum problema: “Deus há-de fazer as contas no fim”, diz.
Ao quarto disco a receita não muda: rock’n’roll à motoqueiro, uma pitada de punk e rockabilly, riffs infecciosos, grooves inspirados, falsetos e ironia às pazadas.
“Complexity”, o primeiro single, abre o disco com uma pandeireta maléfica e uma linha de baixo vinda directamente dos seventies. Tem um refrão contagiante, canta-se “You want the good stuff / You want the big hit“com prazer. “Got a woman” parece AC/ DC em rotação acelerada (com direito a palminhas e coros rockabilly) e a música que fecha o disco, “The Reverend”, progride como uma locomotiva a vapor carregada pela fantástica guitarra de Hughes.
Os riffs de qualidade puxam-nos as orelhas ao longo de todo o disco. A inesperada versão de “Save a Prayer” dos Duran Duran surpreende: Quem diria que o tratamento EoDM faria tão bem a essa música? Os coros à Morricone, acompanhados de um beat Glam Rock, fazem deste um momento fantástico do disco. Por uma vez, a música leva-se a sério e resulta. Destaque ainda para “Skin Tight Boogie”, que não destoaria no catálogo dos Stones, com Hughes a cantar em dueto com a namorada.
Dos Eagles of Death Metal não se esperam novas direcções na música, ou reinvenções e viragens a cada disco: as suas canções não trazem nada de novo, antes pegam no antigo e roubam aquilo que de melhor contém: no mesmo saco temos T. Rex, Rolling Stones do tempo de Beggars Banquet, Ramones e ZZ top. É assim desde o seu primeiro álbum. Com os EoDM já sabemos com o que podemos contar: entretenimento do melhor, desbunda e rock n’roll. Teremos oportunidade de o comprovar a 10 de Dezembro, no Armazém F, em Lisboa, por onde passará a sua digressão.
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