Bum bum bum. Foi com este batimento cardíaco, arrancado ao seu último longa-duração intitulado “Mangy Love”, que Cass McCombs se lançou numa sentida peregrinação folk, mostrando que, apesar das variações e experimentações sonoras a que nos tem habituado, continua a ser um exímio contador de histórias – isto sem perder o foco no lado político da vida. Antes tinha já oferecido o belíssimo “Opposite Love”, tema de abertura do disco mais versátil e assertivo que lançou até à data e que teve o merecido destaque no concerto do São Jorge, integrado na edição de 2016 do Misty Fest.
Com um trio constituído por viola baixo, bateria e teclas, Cass McCombs revisitou muitos dos anteriores discos, vestindo sempre uma roupa extra às canções originais, caminhando do falsete ao modo crooner, fundindo-se com a guitarra no seu estilo muito próprio.
“Burried Alive”, do sumptuoso “Wit’s End”, teve o espírito e o toque de Midas de um recente Halloween; “Dreams-Come-True-Girl”, pérola sacada ao intemporal “Catacombs”, foi envolvida num momento magic mushrooms, e só terminou quando o saloon abriu portas para servir shots de tequilla em bandejas flutuantes; “The Burning Of The Temple, 2012” – que teve a participação de Pedro Sousa, um dos novos talentos do jazz português – mostrou-nos o nascimento do pecado, com uma serpente transformada em saxofone; “Big Wheel” chegou muito perto da vertigem e do precipício, apontando o caminho e mostrando do que pode ser feita a humanidade; “Runs Sister Run”, a macarena de “Mangy Love”, foi o momento chá das cinco servido em copos altos no baile da sociedade.
Antes de “Low Flyin’ Bird”, o tema único escolhido para o encore, McCombs aproveitou o atraso do teclista para se lançar numa versão do genérico da longínqua série televisiva “Hill Street Blues”, mostrando que a versatilidade, o sentido de humor e o desejo de reinvenção são, de facto, a sua praia.
Programa Misty Fest (até 13 Novembro)
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