De Victoria Legrand e Alex Scally, pouco ou nada se viu. Porém, quem conhece Beach House sabe que é assim que a dupla de Baltimore se apresenta ao vivo: escondidos na penumbra, com nuances da sua aparência a surgirem apenas em rasgões luminosos.
Independentemente da fórmula de concertos se manter inalterada ao longo dos anos, o mais recente “7”, lançado este ano e um dos melhores discos de uma carreira que já dura há quinze anos, só por si fazia com que o regresso da banda a Lisboa fosse altamente antecipado, especialmente numa sala tão emblemática como a do Coliseu dos Recreios.
Faltava uma hora para o relógio marcar meia-noite quando os Beach House, transformados em tripleto quando tocam ao vivo com a adição de um baterista, subiram a palco para mergulhar o Coliseu num oceano de estrelas e de sonhos, com “Levitation”, em que a guitarra de Alex Scally rompia pela contraluz da sala, a assumir o leme.
Em noite de arranque para uma nova tournée europeia, ninguém sabia muito bem que surpresas tinham reservadas para o alinhamento. Aliás, foi com alguma admiração que, na primeira mão cheia de canções, se percorreram Depression Cherry, Bloom e Teen Dream, possivelmente os três discos mais acarinhados pelos fãs – fãs esses que trataram de receber cada tema com o respeito e o carinho merecidos.
Com um pano de fundo a intercalar entre disparos luminosos de múltiplas cores e pequenas luzes a assemelharem-se a estrelas, emergiram o Coliseu num ambiente simplesmente mágico, com a escuridão que se instalara pela sala momentos antes a proporcionar o cenário idílico para absorver as sua canções, com especial destaque para as mais recentes. Que “7” é o disco mais experimental da dupla de Baltimore era já um dado adquirido, mas é estonteante a forma como soam ao vivo temas como “L’Inconnue” e “Black Car”, (de)mostrando que os Beach House nunca soaram tão bem ao vivo.
As últimas duas passagens da banda pelo nosso país deram-se em âmbito festivaleiro, no NOS Primavera Sound e no Vodafone Paredes de Coura, respectivamente, mas é em sala fechada que a banda ‘joga em casa’, ou não fosse nesse meio que a sua vertente intimista transparece da melhor forma. Aliás, o equilíbrio do som que uma sala como o Coliseu proporciona, torna-o no melhor local para se ser embalado ao som da angelical voz de Victoria Legrand, como aconteceu em “Wishes” e “10 Mile Stereo”.
Num alinhamento que intercalou a forte maioria de “7”, mas onde os excertos de “Depression Cherry” foram os que reuniram uma maior ovação – “Sparks” e “Space Song” foram dos momentos mais aplaudidos da noite -, os Beach House, mais comunicativos do que o habitual, agradeceram o carinho que Portugal sempre nutriu pela banda; “Lisboa foi onde demos um dos primeiros concertos onde nos sentimos verdadeiramente amados na Europa. O amor que sentimos por vocês tem crescido ao longo dos anos e estamos muito agradecidos por estar aqui”, confessou uma emocionada Legrand.
Para o encore, que colocaria um ponto final numa hora e meia que se manteve bonita do início ao fim, resgatou-se “Myth”, talvez o maior sucesso da banda, e terminou-se com a catarse que dá pelo nome de “Dive”, a funcionar quase como a aterragem da viagem pelo sonho pop dos Beach House – sonho esse que, com a revolução sonora apresentada em “7”, quer-nos parecer que ainda tem muitas mais histórias para contar.
Fotos: Luís Sousa, Música em DX
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