• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Amy Winehouse, Asif Kapadia
Música Com Cabeça 0

Amy Winehouse: Ser e Não Ser

Por Ana Claudia Silva · Em 29/07/2015

Desde que há memória televisiva, até há bem pouco tempo que os domingos de manhã eram passados em família a assistir às corridas de Fórmula 1 e aos videoclipes que passavam nos programas da época. Estávamos em plenos finais dos anos 80 e Ayrton Senna preenchia o grande ecrã, rivalizando posteriormente com os Abba, Art Sullivan, Queen, Tony Bennet e até Ella Fitzgerald. As canções eram repetidas vezes sem fim e, assim, cantarolava-se e gritava-se vitória em cada grande prémio. Estas memórias de domingos renascem quando se assiste ao documentário «Senna», datado de 2010. Asif Kapadia, o realizador, construiu a sua narrativa com base em entrevistas da época, demonstrando assim uma enorme sensibilidade. Foi com base nesta mesma linha de narração que Kapadia partiu para a aventura de documentar a pequena grande vida de Amy Winehouse, que há dias chegou às salas de cinema portuguesas com o título “Amy”.

Desde o início que se percebe que Amy tinha o peso do mundo nos seus ombros. Depois de tanta tinta e caracteres escritos sobre o documentário, há que apreender que cada indivíduo tem as suas emoções. Mais do que tristeza, há uma compaixão desmedida e uma vontade de chegar à tela e abraçar aquele ser humano, e não é pelo sentimento de pena. Há quem consiga dar o grito de Ipiranga e sair vitorioso do seu caos. Depois, há quem se perca no seu interior – no interior do seu eu -, e Amy nunca se conseguiu encontrar na vida terrena.

É através de entrevistas em voz-off que Asif Kapadia guia a sua história, tornando-a digna de uma tragédia grega adaptada ao século XXI. A viagem tem início durante a adolescência desconstruída e desconexa de Amy – nota-se que não há um padrão. Amy apenas queria ser amada e idolatrada pela imagem masculina que criara na sua imaginação. Contudo, ao que parece, nenhum dos homens que amou teve a força e a coragem suficientes para a arrancar daquele limbo – a linha que a separava do sofrimento levando-a à falsa felicidade.

Amy Winehouse, Asif KapadiaCrescer ao querer sobressair dentro do meio musical, mas ao mesmo tempo não querendo ser uma estrela. Contudo, a star is born, saltando quase de imediato para um contrato milionário com a Universal Records, onde a única preocupação era a ‘construção’ de um novo disco.

Nas entrelinhas, as canções vão aparecendo legendadas entre imagens inéditas que nos fazem arrepiar, as folhas escritas com a sua letra de menina e a sua voz pura e crua. Depois, o despertar para o inimigo público – os tabloides britânicos que conseguem ser mais mortíferos que as tropas afegãs. Daí à espiral do mundo das drogas e do álcool foi um piscar de olhos.

Regressa-se então ao phatos da acção onde surgem duas figuras interlocutoras que nos causam aquela ânsia e revolta: primeiramente o seu pai, Mitch Winehouse, que permanece ausente durante anos e regressa como um fantasma fanfarrão em busca da fama; em segundo lugar, a relação amorosa e doentia por Blake Fielder-Civil, que mais parece um burguês mimado e sem qualquer noção da realidade, na qual pode nascer a vontade bruta de o enviar para a prisão de Guantánamo.

A contribuir com todo este circo de feras está o público em geral que, ao seguir as capas de jornal e ao escutar as piadas fáceis feitas por pseudo-humoristas, paga para ver a degradação da cantora que, convenhamos, se meteu a jeito e sem qualquer super-herói à vista (tirando a própria heroína).

Há ainda um momento que resume toda a história e que determina o desfecho que todos conhecem. Durante a cerimónia de entrega dos Grammy`s, é Tony Bennet que anuncia o nome da cantora enquanto vencedora – o seu ídolo. O rosto de Amy ilumina-se e o seu olhar demonstra toda a sua fragilidade e insegurança. Tal como diz o título do disco de Justin Timberlake (que a própria Amy questiona), what comes around comes around, e Amy confidencia à sua melhor amiga que “este mundo sem drogas não tem piada”.

São várias as interrogações que ficam no ar: a inércia de uns e, também, a sensação de impunidade de outros. Mas já não há nada a fazer. Amy tinha o seu destino traçado, destino esse que foi fugaz e mordaz. A vida tornou-a imortal. Talvez tenha sido melhor assim.

Amy WinehouseAsif Kapadia

Ana Claudia Silva

Pode Gostar de

  • DeBÍ TiRAR MáS FOToS World Tour, Deus Me Livro, Concerto, Live Nation, Rimas Nation, Bad Bunny, DeBÍ TiRAR MáS FOToS, Música Com Cabeça

    26 de Maio de 2026 será o Dia da Fotografia (e de Bad Bunny) em Portugal

  • Joep Beving, Casa da Música, Deus Me Livro, Concerto, S. Luiz Teatro Municipal, Música Com Cabeça

    16º Misty Fest arranca ao som do piano de Joep Beving

  • Micah P Hinson, Deus Me Livro, Concerto, Musicbox, Música Com Cabeça

    Micah P Hinson vem celebrar connosco o Gospel do Progresso

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Música Com Cabeça

  • DeBÍ TiRAR MáS FOToS World Tour, Deus Me Livro, Concerto, Live Nation, Rimas Nation, Bad Bunny, DeBÍ TiRAR MáS FOToS,

    26 de Maio de 2026 será o Dia da Fotografia (e de Bad Bunny) em Portugal

    06/05/2025
  • Joep Beving, Casa da Música, Deus Me Livro, Concerto, S. Luiz Teatro Municipal,

    16º Misty Fest arranca ao som do piano de Joep Beving

    05/05/2025
  • Micah P Hinson, Deus Me Livro, Concerto, Musicbox,

    Micah P Hinson vem celebrar connosco o Gospel do Progresso

    21/04/2025
  • Memória de Peixe, Culturgest, Deus Me Livro, Crítica, Deus Me Livro,

    Memória de Peixe @ Culturgest (16-4-2025)

    21/04/2025
  • Vodafone Paredes de Coura 2025, Vodafone Paredes de Coura, Deus Me Livro, Cartaz, Mk.Gee,

    Está fechado o cartaz (e o alinhamento por dias) do Vodafone Paredes de Coura 2025!

    15/04/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto