Os Alabama Shakes nasceram nos pântanos de Athens, Alabama, no Sul dos Estados Unidos. Foram protagonistas de uma ascensão meteórica em 2012, com o sucesso do seu primeiro álbum “Boys and Girls”. O disco servia generosas doses de rock sulista vintage, muito ligado à sonoridade blues-rock e R&B dos anos 60 e 70, à semelhança de artistas como Jack White, The Black Keys ou Amy Winehouse. A isto se acrescenta um enorme factor de diferença: a voz poderosa e cativante da vocalista Brittany Howard, um verdadeiro tornado de carne e osso.
Portanto, voltando um pouco atrás: num momento os Alabama Shakes estavam a tocar covers em bares e pequenos clubes, e no momento seguinte recebiam 3 nomeações para os Grammys, vendiam milhões de discos em todo o mundo e eram convidados de Obama e família, actuando na Casa Branca.
Na sequência desta inesperada aclamação crítica, a banda passou três anos a dar concertos exaustivamente, na América e fora dela, enquanto criava e explorava novas sonoridades. Chegaram agora a um momento decisivo para qualquer banda: o lançamento do segundo álbum. Depois do surpreendente e avassalador êxito do primeiro LP, não seria de estranhar que voltassem a beber da mesma fonte que os havia catapultado para o estrelato: podiam facilmente ter criado mais 12 canções retro saídas da mesma fornalha que “Hold On” ou “Hang Loose”. No entanto, confrontada com o desafio de confirmar as expectativas ou subvertê-las, a banda optou pela segunda hipótese.
“Sabíamos que algumas pessoas provavelmente gostariam de um álbum semelhante ao anterior, e outras ficariam frustradas se o fizéssemos” disse o guitarrista Heath Fogg, referindo-se ao proverbial dilema do segundo álbum. “Não vale a pena tentar agradar a ninguém senão a nós próprios”.
Assim, quando seria expectável arrancar “Sound and Color” (Rough Trade, 2015) com um riff de guitarra distorcido, opta-se por um vibrafone suave, no atmosférico e jazzy tema-título. Nota-se, desde logo, uma produção mais cuidada e espaçosa que a do álbum anterior, que se confirma no resto do disco.
“Don’t Wanna Fight” também se destaca, desde logo pelo cintilante riff de guitarra. Embalada pela pulsação da bateria, Brittany canta sobre o sentimento de desespero de quem está farto de constantes brigas e discussões.
A vocalista acompanha a banda com abordagens e formas de cantar diferentes: tanto domina o falseto à Curtis Mayfield (em “Guess Who”, por exemplo) como agarra um registo mais excêntrico de Janis Joplin distorcida (em Gemini). Por vezes chega a experimentar vários registos dentro da mesma faixa, desde as melodias sinuosas da Soul até à urgência apaixonada do Punk. Noutras, a sua voz é multiplicada e disposta por camadas, como na música que fecha o disco: “Over My Head”, uma lânguida balada R&B, com beats de hip-hop derretidos e claustrofóbicos.
“Sound and Color” representa um enorme salto da banda em relação ao anterior “Boys and Girls”. O leque de sons e texturas ampliou-se bastante, com dinâmicas e variações surpreendentes. Com este disco, os Alabama Shakes conseguiram marcar um distanciamento em relação à imagem algo redutora que tinham. Sendo menos imediato, convence e reflecte uma banda confiante, sem medo de arriscar. Há momentos que se relacionam com as raízes mais convencionais do seu som, como em “Shoegaze”, parecendo estar muito – e mais – à vontade nas faixas mais psicadélicas e espaciais como “Gemini” ou “Over My Head”, o que pode ser indicador do caminho que pretendem trilhar daqui em diante. Para onde quer que se dirijam, valerá a pena fazer esta viagem com eles.
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