Autor e ilustrador, Brian Selznick conquistou os seus quinze minutos – e umas quantas horas extra – de fama com a obra “A Invenção de Hugo Cabret”, na qual prestou uma homenagem ao cinema, misturando a ilustração e a narrativa – que dividiam a meias todo o protagonismo. O livro acabou por ser adaptado ao grande ecrã por Martin Scorsese, com um elenco feito de estrelas como Ben Kingsley, Chloë Grace Mortez ou Sacha Baron Cohen, um feito que acabou por incentivar Selznick a repetir a brincadeira com “Wonderstruck – O Museu das Maravilhas” (Asa, 2018), cuja adaptação cinematográfica se encontra nas mãos de Todd Haynes e de um elenco composto por Julianne Moore, Michelle Williams ou Amy Hargreaves.
O livro decorre em dois momentos temporais distintos, separados entre eles por cinco décadas -1927 e 1977 -, tendo ambos crianças como protagonistas – ainda que a sua história nos seja contada de forma bem distinta.
Ben Wilson nasceu surdo de um ouvido, sonhando com “lobos com as línguas vermelhas a abanar e os dentes brancos a reluzir“. Agora que a mãe morreu, Ben prepara-se para viver com os tios Jenny e Steve, tentando valer-se da expressão que, muitas vezes, a mãe usava quando tocada pelo infortúnio: “Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão a olhar para as estrelas“. Numa visita à casa da mãe, que irá herdar, descobre uma lata que, para além de guardar algumas centenas de dólares, esconde também um pequeno livro azul, com a capa amolecida pelo tempo e o título “Wonderstruck”. Um livro sobre a história dos museus que parece conter uma pista sobre o pai de Ben, o qual este nunca conheceu – não sequer sabe se continua vivo -, e que o irá levar a deixar o Minnesota para uma viagem com ar de demanda.
Cerca de cinquenta anos antes, no estado de New Jersey, a pequena Rose acompanha, entusiasmada, a carreira da actriz Lillian Mayhew, recortando notícias e fotografias que vão saindo em revistas e jornais e que servem para dar cor ao seu álbum de estimação. Rose é surda, e tem como passatempo construir arranha-céus com páginas arrancadas – ou cortadas – a livros.
Mesmo sabendo que as duas histórias acabarão por se cruzar a dado momento, Selznick consegue esconder algumas surpresas e manter o encanto até ao último instante, levando o leitor a acreditar que, afinal, “talvez todos sejamos armários de maravilhas“.
Enquanto a história de Ben nos é contada através de uma narrativa tradicional, no formato escrito de um romance, a história de Rose chega-nos unicamente através de uma ilustração quase sempre silenciosa, em desenhos a carvão muitas vezes de página dupla que mostram, entre outras coisas, os museus como lugares de refúgio e a surdez como um mundo de ausência – captado de forma sublime pelas ilustrações. Uma pequena maravilha que chega às livrarias portuguesas numa edição muito bem desenhada, em capa dura e uma gramagem de papel que assenta bem a este misto de romance/BD.
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