Daniel Innerarity é um dos mais importantes pensadores dos nossos dias, galardoado com o Prémio de Humanidades, Cultura, Artes e Ciências Sociais da Sociedade de Estudos Bascos / Eusko Ikaskuntza em 2008 e, em 2013, o Prémio Cultural Príncipe de Viana. O filósofo e investigador basco, especialista na área da Filosofia Política e Social, é colaborador habitual do jornal El País e já escreveu vários livros. O seu último título, “Uma Teoria da Democracia Complexa” (Ideias de Ler, 2021) equaciona o antigo conceito grego – democracia –, assim como os desafios da legitimidade democrática com que nos deparamos hoje.
A democracia marcou o início de um novo sistema político, em resposta à tirania, na antiga cidade de Atenas. A igualdade de todos – excluindo mulheres, estrangeiros e escravos – perante a lei fundamentou um conjunto de grandes reformas sociais e políticas, assim como uma maior participação dos cidadãos na vida política. Apesar de a democracia perdurar na maioria das sociedades, todos sabemos que vivemos constantes mudanças e desafios. Daniel Innerarity reflecte sobre essas mutações, renovações e ameaças a que a democracia está exposta. Serão a violência, a corrupção ou a ineficiência de vários governos as principais ameaças da democracia? – este é um dos pontos de partida para esta reflexão.
Innerarity começa este livro esclarecendo o leitor de que a principal ameaça à democracia é a simplicidade: “Ninguém diria que o simplismo, com o seu ar de inocente descomplicação, pode actuar de maneira tão corrosiva sobre a vida política, mas há alturas em que os inimigos menos evidentes são os mais perigosos”. Não se pode ignorar a complexidade crescente das sociedades, os grandes desafios do XXI. As respostas simples são frágeis, insuficientes e incompletas. Aliás, o autor sublinha a ideia de que “pensar hoje a democracia exige que se examine a congruência entre a complexidade do sistema e a dos seus problemas”.
Pensar a democracia implica reflectir sobre a diversidade, a incerteza e diferentes formas de gestão, sobre os múltiplos desafios colocados quer de ordem local quer de ordem global, assim como a necessidade de tornar os cidadãos mais activos, conhecedores e envolvidos com a política. Não nos podemos – nem deveremos – esquecer que a democracia foi “feita para o povo, não o contrário”. Assim, é essencial que o povo, os cidadãos, tenham competência política para que possam ser conhecedores da realidade complexa, mas que simultaneamente consigam ser críticos e capazes de interpretar narrativas plurais, tradições, diferentes visões do mundo, de modo a melhorar as suas competências para lidar com a diversidade de opiniões e interesses, assim como respeitar as discordâncias. Uma democracia só pode funcionar se os cidadãos entenderem os fenómenos e acontecimentos, a realidade envolvente, e julgarem o que acontece. Se a democracia se torna ininteligível, o que está a acontecer em muitos regimes, não serão capazes de responder aos desafios com que se confrontam. Ao longo das quatrocentas páginas, o leitor conhecerá várias razões para compreender que as “democracias são os sistemas políticos que melhor aproveitam o saber distribuído da sociedade contemporânea, que produzem melhor legislação e políticas públicas de maior qualidade”. Um livro para ler, reler, pensar e reflectir. Um livro que faz falta para pensarmos os nossos dias.
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