Quem olhar para a capa de “Uma Cova é Para Escavar” (Kalandraka, 2016), provavelmente irá associá-lo a um daqueles manuais da terceira classe escutistas, que ensinavam a montar tendas, a dar nós de toda a espécie e feitio ou a sobreviver num lugar inóspito apenas com a ajuda de bagas e outros presentes da natureza.
Resultado de uma parceria entre Ruth Krauss e Maurice Sendak, que começou em 1952 e se viria a prolongar até 1960 – para ser depois retomada em 2005 com a série Ursos -, este “livro das primeiras explicações” alia frases soltas às ilustrações, tecendo raciocínios próprios da lógica infantil que, nestas páginas, tanto têm de espontâneo como de filosófico.
Aqui não se encontram tabuadas, exercícios de gramática, pontos cardeais ou nomes de rios, mas sim poesia – “Um sonho é para observar a noite e ver coisas” -, humor – “As sobrancelhas são para revirar os olhos” – e algumas regras dissimuladas – “Os botões apertados são para te manteres quente” -, tudo acompanhado pela presença e os dizeres sobre as covas – “Uma cova é para plantar uma flor“.
Quanto às ilustrações, assinadas num irrepreensível preto e branco, estão carregadas de expressividade, movimento, profundidade e atenção ao detalhe, ou não fossem elas da autoria do Mestre Sendak. Que todas as primeiras explicações sobre a vida fossem assim.
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