• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Uma Biblioteca da Literatura Universal, Deus Me Livro, Cavalo de Ferro, Herman Hesse
Mil Folhas 0

“Uma Biblioteca da Literatura Universal” | Herman Hesse

Por Cris Rodrigues · Em 29/06/2018

Entrar numa biblioteca, seja ela municipal ou privada, é como entrar numa densa floresta. E bem sabemos que cada floresta tem as suas particularidades e múltiplas espécies, ou seja, a densa floresta rapidamente se torna uma selva.  A Literatura Universal (Cavalo de Ferro, 2018) – reedição) é essa selva e Hermann Hesse pretende torná-la, em “Uma Biblioteca da Literatura Universal” (Cavalo de Ferro, 2018), menos hostil. O autor, Nobel da Literatura em 1946, não dá receitas para encontrarmos os livros da nossa vida, apenas os incontornáveis, e desce cedo esclarece:

“Um elenco de livros cuja leitura seja absolutamente necessária e sem os quais não há saúde nem cultura não existe. Em vez disso, há para cada homem um notável número de livros nos quais precisamente ele, o indivíduo, pode encontrar satisfação e prazer. Descobrir gradualmente estes livros, entabular uma relação duradoura com os mesmos, possivelmente apropriarmo—nos deles pouco a pouco…”

Em pouco mais de uma dezena de pequenos ensaios, Hesse tece considerações sobre a importância dos clássicos, a paixão de ler e o possuir livros. E é essa a magia dos livros, serem capazes de se apropriar de nós, tanto ou mais do que nos apropriamos deles. É preciso espontaneidade e vontade no momento de lhes pegar: “A via que ele tem de percorrer é aquela do amor, não aquela do dever“.

No primeiro ensaio (1929) que dá título ao livro, Hesse afirma a necessidade do amor aos livros e ao acto da leitura, salientando que os livros mais velhos – ou os clássicos -, serão aqueles que menos envelhecem e que, talvez, provocaram maiores paixões. Ainda nesse texto, a lista cresce e enche os olhos do leitor, desde a Bíblia a Gilgamesh, passando pelas Mil e Uma Noites ou os populares contos dos irmãos Grimm. Mas as estantes ganham ainda mais pilares com os gregos e as suas tragédias ou os contos que remontam à mitologia, sem esquecer os romanos e as odes ao império.

A visita guiada é intensa e labiríntica e, já perto do fim, o autor questiona ainda as suas lacunas e enumera muitas mais referências. É inevitável a sensação de esmagamento, sobretudo quando o remate final é dado assim:

Uma Biblioteca da Literatura Universal, Deus Me Livro, Cavalo de Ferro, Herman Hesse“Que cada um comece por aquilo que é capaz de compreender e de amar! Aprender a ler, no sentido mais elevado da palavra, nunca poderá ser feito por intermédio de jornais nem da literatura contemporânea que nos aparece à mão, mas somente através das obras-primas. Estas têm, por vezes, um sabor menos doce e menos picante do que as leituras que estão na moda. Querem ser levadas a sério, conquistadas. (…) Se nós queremos que as obras-primas nos demonstrem aquilo que vale, precisamos primeiro de lhes demonstrar o que valemos.”

Os ensaios seguintes salientam que os caminhos para chegar aos grandes são inúmeros e desafiantes, mas que pela persistência e paciência o leitor há-de achar o seu melhor caminho, seguindo o momento e consoante o humor – tal como a arte e o ofício de escrever. No pequeno ensaio “Do Escritor” (1908), a crítica social face às exigências ao escritor-jornalista espanta por ser tão actual e frisar a necessidade de os escritores não se deixarem levar por tendências, exigências e chantagens:

“A nossa profissão consiste em calar, em abrir os olhos e em esperar que cheguem as horas propícias – e então o trabalho, ainda que requeira suor e noites de insónia, é maravilhoso e já não é trabalho.”

Há sem dúvida uma brilhante argumentação por parte do autor, que não dispensa o elitismo quando afirma, por exemplo, que livro nenhum digno desse nome deve servir para distrair o leitor, apenas para concentrar, ao máximo, a nossa atenção: “É imprudente e nocivo desperdiçar o nosso próprio tempo em leituras sem uma finalidade concreta“. Parece redutor ou castrador, incómodo até. No entanto, o rumo que o texto leva, criticando tanto o estado da leitura como da escrita, deixa-nos a pensar no verdadeiro conteúdo da mensagem do autor: uma crítica facilmente extensível até aos dias de hoje.

Cavalo de FerroHerman HesseUma Biblioteca da Literatura Universal

Cris Rodrigues

Pode Gostar de

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote, Mil Folhas

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote,

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

    13/05/2025
  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto