É mesmo caso para dizer que este é um policial que veio do frio. Mas não da Suécia, da Islândia ou de outro lugar habitué do Norte da Europa no que toca à marinagem de policiais, antes de um lugar mais dado à pacatez e ao vazio: a Gronelândia.
Em 2006, Christoffer Petersen convenceu a mulher a mudarem-se para a Gronelândia, onde Chris deu aulas e começou a escrever histórias ambientadas nessas paragens remotas. Por lá ficou sete anos, antes de um regresso à Dinamarca que, agora, serve de casa para Chris trabalhar numa série de livros que tem a Gronelândia como cenário, sendo o primeiro intitulado “Um Inverno Sete Sepulturas” (Quetzal, 2019).
A trama tem lugar na remota comunidade árctica de Inussuk, onde no final de cada Verão se faz a abertura antecipada de sete sepulturas, antes que o solo congele e como forma de antecipar o infortúnio: duas para suicídios, uma para uma rixa motivada pelo álcool, outra para um acidente de pesca, uma para um nado-morto, uma para servir a velhice e uma outra para o cancro.
David Maratse, um polícia prematuramente reformado e resmungão, que não vota não vê notícias nem confia nos políticos, instala-se em Inussuk para uma tranquila vida à volta da caça, das baleias e dos icebergues. Durante um dia de pescaria, acaba por encontrar o corpo da filha de uma importante figura polícia nacional, acabando inesperadamente por ser considerado o principal suspeito.
Com uma trama policial algo previsível e pouco dinâmica, o mais interessante do livro acaba por ser a corrida política ao cargo de primeiro-ministro, que deixa de lado o importante para se centrar na questão da língua nacional e do desejo ou não de independência da Gronelândia em relação à Dinamarca. Bem como o retrato que Pettersen faz da generosidade de uma pequena comunidade, que vive da caça à foca e a aproveita da gordura ao osso.
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