Nasceu no Rio de Janeiro em 1975, tendo ficado conhecida do público pela sua participação no premiado filme “Tropa de Elite” ou, para aqueles que se costumam ligar mais ao pequeno ecrã, através de “Império”, a novela produzida pela Globo que também estreou por cá.
Maria Ribeiro participou em mais de dez filmes e vinte novelas, é cronista do jornal O Globo e da Revista TPM, realizadora de documentários e apresentadora do programa Saia Justa, que passa no canal GNT. Agora, chega a vez de sermos apresentados a “Trinta e Oito e Meio” (Tinta da China, 2016), livro que reúne alguns dos textos da autora brasileira que escreve como quem bate um papo tranquilo.
“Me chamo Maria e acabei de chegar“, escreve no texto de abertura, onde se dirige ao impenetrável João Gilberto em jeito de homenagem e com um sorriso meigamente desafiante. Cada texto assemelha-se a um videoclip literário, onde as palavras saltam como imagens discorrendo sobre lugares, pessoas, estímulos e emoções, sempre com muita música, cinema e futebol pelo meio. E, claro, com uma boa dose de humor e ironia, numa linguagem despreocupadamente poética.
São textos com uma grande marca e exposição pessoal, que ajudarão o leitor a desenhar um mapa sentimental e emocional de Maria Ribeiro: amante da dupla sofá/TV, se possível na companhia de um sorvete; faz listas de desejos, promessas e resoluções – gostar do Zidane, mochilar pela Europa, aprender todas as letras dos Smiths, não gastar um terço do salário comprando roupa; cresceu com Pink Floyd, Steve Miller Band, Men At Work, Caetano ou Djavan, para mais tarde descobrir pelo seu próprio pé The Smiths, Tim Maia ou Julian Casablancas; delirou com a chegada da maternidade, esse regresso à infância – “Os filhos são uma verdadeira máquina do tempo. Sem o custo do efeito especial“; pensa seriamente em abandonar o instagram e tudo o que é rede social; não tem vergonha de admitir a sua aversão a géneros cinéfilos, como o cinema japonês – “Meu marido me levou por anos na cinemateca do MAM pra ver Ozu e Kurosawa, e eu lembro inclusive de ter ficado comovida com Viagem a Tóquio, mas talvez eu seja óbvia como Nova Iorque, Natalie Portman e sorvete de chocolate“; teve como catalisadores de vida Tom Jobim, Rubem Braga e Machado de Assis, e hoje encontra inspiração em Lena Dunham, Gregorio Duvivier e Ranata Lo Prete.
Sempre num registo a tocar o agri-doce, e mesmo que encontre em Clarice Lispector um nome maior da literatura e das geografias sentimentais, nota-se em Maria Ribeiro – e na sua escrita – uma aversão à solidão e à tristeza, ilustrada com um outro nome da escrita: “Ibsen escreveu que o homem mais forte é aquele que está mais só. Sempre achei bonito. Mas desconfio que quem escala com estratégia um meio de campo pro seu time tem mais chance de ser feliz.” Já quanto à eterna pergunta levantada pelos Monty Python, What’s the meaning of life?, deixa-nos uma resposta que se lê, arriscamos, como uma radiografia do seu ser:
“Talvez a vida seja isto: aos 25 perceber que é preciso fazer escolhas; aos 35 trabalhar e sorver a infância da prole, e aos 45 despedir-se dos pais e ter coragem pra ser o próximo. E se tudo der certo, o fim se dará por volta dos 90, quando já teremos levado os netos pra torcer pelo time do coração e nada faltará pra vida ter feito sentido.” Nada mau mesmo.
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