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Tomie, Devir, Deus Me Livro, Crítica, Tomie 2, Junji Ito
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“Tomie 2” | Junji Ito

Por Pedro Miguel Silva · Em 30/05/2024

Há cerca de seis meses, referimo-nos por aqui à abertura da Caixa de Pandora de Junji Ito. Isto porque, depois de anos e anos sem qualquer livro publicado em Portugal, aterravam nas livrarias nacionais duas edições deste autor japonês dado ao mangá de terror, ambas com o selo Devir: a “Coleção de Contos Best of Best” (ler crítica), que reunia dez histórias com argumento e desenhos do autor, carregadas de humor negro e sempre a roer o osso de uma costela macabra, e “Tomie 1” (ler crítica), o primeiro tomo de uma série sobre uma jovem imortal que leva os seus admiradores à loucura. Pelo meio, Ito esteve também presente em “Terror na Montanha” (Sendai Editora), livro que compilava 5 contos de Jumpei Azumi, um deles por si ilustrado.

“A minha amiga Tomie morreu. O seu corpo foi esquartejado e encontrado em vários sítios. Parece que ainda não encontraram todas as partes, porque os pedaços eram muito pequenos. O criminoso não foi apanhado, pois não? Que medo”. Foi com este arranque de fazer arrepiar os pêlos dos bracinhos que tudo começou, uma corrente de ar subcutânea que se estende agora a “Tomie 2” (Devir, 2024), livro que consegue ser ainda melhor que o primeiro. E que começa, desta vez, com a faca mas sem queijo na mão.

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Depois de assistir a um esfaqueamento de uma jovem, Tetsuo-San vê-se brindado com um estranho pedido: “Em vez de chamares a ambulância, leva-me para tua casa”. Pedido que, mais tarde, conhecerá uma continuação ainda mais macabra, envolvendo o pedido de enterro num lugar deserto e sem direito a cremação. É este o andamento primeiro desta Tomie, que desliza em modo Highlander até nos tirar o tapete, o cobertor e todo o que apanhe à mão.

Chie-Chan torna-se o protagonista do segundo andamento, depois da descoberta de uma caixa que o pai tinha escondido com madeixas de cabelo, pertencentes a outra mulher que não a sua mãe. Estranhamente, o cabelo parece continuar a crescer, agarrando-se ao couro cabeludo dos mais desprevenidos, mostrando ter vida própria. Miki, a bestie de Chie-Chan, decide levar a caixa para as suas férias, estabelecendo uma linha directa com Tomie. Um conto com o espírito de Sansão e com a toma abusiva de psicotrópicos de primeira linha.

De seguida entramos na residência do casal Hinada, onde cada uma das sucessivas filhas adoptivas parece ter como destino a morte, sempre com causas desconhecidas. A mulher quer ter por perto uma filha jovem, que a faça lembrar os seus melhores anos de adolescente, o que se concretiza com a milagrosa entrada em cena de Tomie, que aqui nos irá revelar a sua ementa de eleição – caviar e froie gras – e fazer gato e sapato de Satoko, a empregada doméstica. A haver um mantra a retirar, provavelmente será mais ou menos assim: amigos, amigos, heranças à parte.

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Até final, conhecemos o mais novo de uma série de irmãos, vítima de um constante bullying, com fraca aparência e desconfiado da estilosa nova namorada do velho pai, numa história que recupera o ditado de que quem vê caras (e corpos) não vê corações; conhecemos Satoru, rapaz de amores maternais e outros, e “a desgraça que assolou uma família feliz”; enfrentamos uma espécie de canibalismo líquido, com muito álcool à mistura; entramos num quarto com grandes, onde se encontra uma bebé que adora ver incêndios, descansando os olhos num “vermelho forte, como se ardesse em chamas”; observamos Umehara, que perdeu a namorada por doença e se vê atirado para um estranho culto; espreitamos Ayaka, uma sedutora que tenta desviar um miúdo do bom caminho escolar, escapando a um ataque com seringa de um rosto que tem o hábito de mudar de feições; enfrentamos com Tomie, uma modelo engatatona, frases impensáveis quanto esta: “O teu rosto e estilo são banais”; seguimos os passos dos assassinos contratados pelas três Tomies, que montaram emboscadas a preceito, numa história de encerramento que nos traz um misterioso homem de negro, de chapéu e com a pele desfigurada, cujo sonho é ver Tomie envelhecer.

Aguardemos, novamente de cutelo na mão, pela saída do terceiro volume.

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Pedro Miguel Silva

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