Imaginem “Groundhog Day” – “Feitiço do Tempo” na versão portuguesa -, esse filme de culto protagonizado por Bill Murray, convertido – e reinventado – num mangá para jovens adultos, onde um jovem tem, após a descoberta do assassinato da sua namorada do 8º ano, a possibilidade de recuar no tempo – vezes sem conta – para a salvar. É mais ou menos assim a trama de Tokyo Revengers, série escrita e desenhada pelo japonês Ken Wakui, que chegou a Portugal com o selo Distrito Manga, uma chancela da Penguin Random House.
Hanagaki Takemichi, protagonista maior, lança em “Tokyo Revengers 1” (Distrito Manga, 2024) um auto-retrato pouco abonatório em qualquer entrevista de trabalho: “Um apartamento todo podre com as paredes mais finas do que papel. Uma chefe que é seis anos mais nova e me trata como um idiota. Só tive uma namorada na vida. Sou tão virgem que dá pena. Onde é que eu errei?”. Erros à parte, a verdade é que até essa namorada longínqua acaba por morrer, apanhada num confronto com o gangue Tokyo Manjikai.
Perdido nos seus pensamentos, Takemichi, de 26 anos, acaba por cair da plataforma do metro. Porém, ao invés de se encontrar na sala de espera para o julgamento final, vê-se atirado de volta ao seu 8º ano, quando tinha 12 anos e era ainda menos confiante do que no tempo presente, acabando por seguir o caminho da delinquência como soldado do gangue Tokyo Manjikai. Ao reencontrar Naoto, o irmão de Tachibana – a tal namorada -, revela-lhe o dia em que esta irá morrer, pedindo-lhe que não se esqueça da data e que cuide da irmã.
Ao acordar na cama de um hospital, recebe a visita de um detective do departamento de crime organizado, que se chama… Naoto. Isso mesmo, o irmão que não se esqueceu da dica e tomou como missão salvar a irmã, algo que julga possível após descobrir que Takemichi tem a habilidade de saltar no tempo, podendo viajar 12 anos no passado sempre para o mesmo dia. “Eu sei qual é o teu gatilho do teu salto temporal. Quando apertei a tua mão há doze anos, Takemichi… senti-te a desaparecer no Takemichi do passado. O gatilho é apertares a minha mão”. Tal como Bill Murray, Takemichi irá adoptar a estratégia da tentativa/erro, esperando que a coisa não acabe como num dos Regressos ao Futuro, onde tanto se mexeu no passado que o presente ficou, a dada altura, ainda pior.
Chegados a “Tokyo Revengers 2” (Distrito Manga, 2024), e depois de várias – muitas – tentativas fracassadas, Takemichi traçou uma nova estratégia: se quer mudar o passado, terá primeiro de compreender e agir no presente. Decide assim procurar e falar com Mikey, o líder do gangue que considera de confiança, apesar da aversão de Naoto.
É nesta nova missão que perceberá que Akkun, que deveria ter-se tornado um mero ladrão após uma longa pena por aos 16 anos ter esfaqueado um homem chamado Kiyomizu Masataka, do Toman (outro gangue), é agora o administrador do… Toman. O que significa que, no seu vaivém de regressos, acabou mesmo por mudar o passado.
Em cena entra também Moebius, um gangue que no passado domina a cidade de Shinjuku, e talvez seja por aqui que Takemichi possa começar a sua sempre reinventada missão. Isto enquanto se torna amigo do peito de Draken, “o coração do Mikey”, tentando que este não seja morto num confronto entre gangues que mais parece um daqueles encontros combinados entre claques de futebol onde se vai escolhendo a arma à vez. No final, perante o quase rebentar da violência, Takemichi deixa no ar uma pergunta para um milhão de euros: “Merda!! O que é que eu faço agora?”. A resposta segue no volume 3, já disponível nas livrarias.
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