“O retrato mais vívido do que é uma cidade acontece na banda desenhada“. As palavras são de Filipe Homem Fonseca no prefácio à antologia TLS Series que, neste primeiro volume, é dedicado às “Cidades” (G. Floy, 2017).
Criada pelos membros presentes do The Lisbon Studio, a TLS Series representa o regresso deste colectivo ao mundo da edição, depois da publicação da Mag#1 – The Lisbon Studio e de 10 números da WebMag, publicados online no Issuu entre 2013 e 2016.
Com mais de uma década de existência, o The Lisbon Studio surgiu como um espaço partilhado por autores que partilhavam uma dedicação à banda desenhada, tendo alguns deles, no seu percurso posterior, realizado o sonho de colaborar com editoras de sonho como a Marvel ou a Image Comics.
“Todas estas cidades, reais e imaginárias, são tão verdadeiras como as feitas de metal e betão“, lê-se ainda no prefácio, antes de serem servidas sete histórias urbanas muito distintas, não apenas nas suas ruas e praças mas, sobretudo, no que toca à sua edificação e ilustração.
Em “Quiosque”, Joana Afonso gira à volta da ideia de que o que se muda é a forma como somos mudados pelo outro, numa história onde os fantasmas e o arrependimento morrem na praia; “Oumun The Revenge”, de João Tércio, é uma história de vingança por cumprir num loop regado com muito álcool em mesas de aposta; “24 Horas”, de Dileydi Florez, tem o ar de um diário ilustrado de uma adolescente; “Cid Hades”, de Gonçalo Duarte, mostra um prisioneiro do ar poluído, que entre cigarros e cervejas vai conhecendo uma outra cidade – ou esquecendo aquela em que vive; “Os Muros de Terrea, de Ricardo Cabral, usam tijolos de Bilal e Maltese para contar os últimos dias de uma civilização.
Os destaques desta edição vão para “O Rasto do Fantasma”, de Marta Teles, retrato de um amor fantasma, cheio mas soluçante, que recebe a bênção poética de Pedro Tamen; e, sobretudo, para “Muralha” (imagem acima), de Filipe Andrade, uma história de reabilitação em Hong Kong que se serve de uma vibrante paleta de cores, e onde miúdos lançam papagaios de papel dos telhados de um bairro que, só por si, é também uma cidade aquartelada, sujeita a regras muito próprias. Mais uma bonita edição da G. Floy servida em capa dura.
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