Com quase 400 milhões de cópias, Stephen King é um dos autores mais traduzidos em todo o mundo, tendo-se consagrado como o mestre do terror. A partir do segundo livro, King começou a adicionar factores paranormais, criando o ambiente negro perfeito para conceber histórias que lhe permitiram vingar nesta área da literatura – tendo, muitas delas, sido adaptadas ao cinema.
Uma dessas narrativas foi “Shining” (11×17, 2017), um dos seus primeiros trabalhos – agora reeditado numa versão de bolso –, que teve direito a uma adaptação dirigida por Stanley Kubrick, em 1980, com Jack Nicholson no papel principal. Muitos dos que leram o livro ficaram algo desapontados com esta produção, pelo facto do argumento ter sofrido mudanças significativas em relação à história – inclusive na construção das personagens, que Kubrick tornou mais fracas e menos consistentes em relação às de Stephen King. Estávamos em 1977 e, com esta obra, Stephen King inaugurava uma fábrica de produção de terror que perdura até aos dias de hoje.
Jack Torrence aceita tomar conta do hotel Overlook que, durante o inverno, fica completamente isolado devido à neve. Jack e a família encontram-se numa situação complicada, tanto a nível financeiro como familiar, sendo este o último recurso para ultrapassar um momento difícil.
Em casa espera-o o filho, o Iluminado, com um sexto sentido apurado e um amigo imaginário – assim encaram os pais – que lhe mostra o que vai acontecer no futuro. Danny sabe que a entrevista correu bem e que se vão mudar para o hotel, mas sabe também que algo de terrível está para acontecer.
Durante a entrevista de trabalho, Jack fica a saber que Overlook está carregado de histórias macabras, começando pela do antigo zelador, que foi tomado pela ‘’síndrome da cabana’’ e matou toda a sua família, suicidando-se em seguida.
Mas nem só de fenómenos paranormais está esta história recheada, tendo King feito um excelente trabalho na construção da personagem de Jack, um pouco baseada na sua própria experiência. Os maiores fantasmas que habitam “Shining” são as assombrações da alma que não dão sossego às personagens: o pequeno Danny, atormentado pela ideia de divórcio dos pais; Wendy, a esposa de Jack, que sofre com os fantasmas do marido e o facto de não conseguir oferecer estabilidade à sua família; e Jack, que nunca conseguiu ultrapassar os traumas de infância causados pelo comportamento abusivo do seu pai alcoólico, comportamento que optou por adoptar.
Um hotel com um poder possessivo e traumas familiares foram o suficiente para King conseguir criar um ambiente arrepiante de suspense e terror, onde o adversário não é algo físico e palpável mas sim uma atmosfera rica em tensão e horror.
Em 2013 Stephen King escreveu ’’Dr. Sono’’, o volume de continuação em que Danny, já adulto, segue as pegadas do pai e sofre igualmente de problemas de alcoolismo. A exposição das três gerações é estupenda, ao demonstrar o poder que uma situação traumática tem no seio familiar.
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