Em 2022, os fãs de Spirou e Fantásio tiveram um presente dos grandes, com a publicação de “Spirou: Diário de um Ingénuo”, um álbum escrito e ilustrado por Émile Bravo. A história da revisitação a uma das grandes duplas da banda desenhada – trio, se incluirmos também o fofinho e travesso Marsupilami – remonta a 2006, ano em que a editora Dupuis inaugurou uma série intitulada “Uma Aventura de Spirou e Fantásio por…”, a que outros decidiram chamar mais tarde “O Spirou de…”. Colecção que, por esta altura, conta já com 29 volumes e 4 livros paralelos publicados.
Nomes à parte, o objectivo era convidar alguns autores para criarem o seu próprio Spirou, não seguindo necessariamente a cronologia oficial publicada. “Os Gigantes Petrificados”, álbum assinado por Yoann e Vehlmann – o primeiro da série -, foi publicado em Portugal em 2007 pela ASA, integrado numa colecção dedicada a Spirou lançada então com o jornal Público. Seguiu-se um hiato de 15 anos, tendo a Asa regressado a Spirou com esse “Diário de um Ingénuo”, que correspondia ao 4º volume da série.
Após ter trabalhado neste álbum, Émile Bravo escreveu uma sub-série dividida em 4 partes (que correspondem aos volumes 13, 14, 18 e 19 da série belga, publicados entre 2018 e 2022). “Spirou: A Esperança Nunca Morre…” (Asa, 2022; 2023), a primeira delas, está também disponível nas livrarias com o selo da Asa, numa edição em dois livros: “Um Mau Começo” e “Um Pouco Mais Perto do Horror”.
“Um Mau Começo”, a primeira das duas metades, transporta-nos para Bruxelas no ano de 1940. O negócio está difícil para o Hotel Moustic, apesar da Bélgica ter manifestado a sua neutralidade. Nas ruas, os putos divertem-se a recriar a guerra com bolas de neve, ignorando o pesadelo que chegará em breve com a declaração de guerra da Alemanha.
Quanto a Spirou, vive por esta altura dias amorosos complicados. A sua namorada alemã, comunista por convicção, vai ser expatriada da Rússia para a Alemanha. Há quem ainda acredite que na Alemanha as coisas vão ser diferentes, e que não se irão repetir os pogroms da Rússia, mesmo com todos os indícios polacos – onde os nazis obrigaram os judeus a usar uma braçadeira.
Já Fantásio é o humor em pessoa – um humor algo irado, quase sempre acidental e pleno de nonsense -, juntando o pouco jeito para a escrita com ir dando abébias ao inimigo, que depois desafia de forma descarada.
Neste volume, continuamos a acompanhar a tormenta e o escalar da Segunda Guerra Mundial: a prisão de cidadãos alemães por precaução; a chegada de refugiados e a busca de asilo junto do governo francês; a chegada da guerra à França; o colaboracionismo francês; as crianças e as juventudes extremistas. Tudo com muito humor, seja seguindo a tremenda Odisseia de encontrar as calças de Fantásio ou a eterna brincadeira sobre Spirou ser a cara chapada do Tintin.
Na segunda metade deste A Esperança Nunca Morre…, intitulada “Um Pouco Mais Perto do Horror”, viajamos entre a cautela de Spirou e a imprudência de Fantásio. Em tempos onde reina a falta de emprego, a fome e a miséria, o cerco aperta-se em volta dos judeus.
Um volume no qual Spirou e Fanásio decidem montar o Teatro do Anãozinho, um espectáculo itinerante de marionetas que vai fazendo sensação pelo seu humoe e dissimulada crítica política, no qual terão ajuda de Felix e Felka, artistas remediados e judeus. À semelhança do volume anterior, terminamos a viagem numa plataforma de comboios, a caminho de um destino funesto: Auschwitz. Cruzemos os dedos para que a Asa avance com a publicação de toda a série.
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