Este segundo volume de Southern Bastards, intitulado “Sangue e Suor” (G. Floy, 2016), trazia consigo uma curiosidade acrescida, uma vez que não são todos os dias que assistimos a um final como o do primeiro tomo. A morte do suposto protagonista de uma história constitui sempre uma jogada arriscada, envolvendo a sua substituição e, consequentemente, uma mudança no status quo.
No final do volume anterior, havia ficado no ar que o protagonismo passaria de pai para filha. Contudo, antes de isso acontecer, Jason Aaron e Jason Latour têm outro objectivo para este volume: mostrar o reverso da medalha daquilo que haviam apresentado anteriormente. Aaron é um autor que sabe que o mundo não é a preto e branco, que cada acção resulta numa reacção, que violência gera violência e que diferentes pontos de vista trazem diferentes consciencializações da mesma realidade. Em “The Other Side”, Aaron já demonstrara estas preocupações quando decidiu focar-se na guerra do Vietname, apresentando a história do ponto de vista de um soldado norte-americano e outro de um vietnamita. Esta preocupação volta-se a sentir em “Southern Bastards”.
No início desta história, Aaron não revelou logo estas intenções ao apresentar, de forma muito clara, tanto os seus heróis como vilões. Aqui, apenas o protagonista foi dotado de alguma dimensão, ao explorar a relação que teve com o seu pai, de forma a compreendermos as suas motivações. Sem contar com ele, todas as restantes personagens eram lisas e unidimensionais, algo que este segundo volume vem alterar. Após o autor nos fazer criar determinadas assunções sobre o vilão desta história – Coach Euless Boss –, é tempo agora de nos revelar o seu passado. Não é que Boss deixe de ser o criminoso que conhecemos inicialmente, mas o conhecimento do seu passado e o percurso que o levou a ser o homem que é hoje acrescentam muito à personagem, melhorando-a substancialmente. Desta forma, cada volume da saga parece que irá adicionar uma peça importante, personagem a personagem, à medida que vamos avançando para o quadro final.
Como um todo, “Southern Basterds” mantém uma abordagem directa e até superficial ao sul dos Estados Unidos. Nesse sentido, a violência inerente a esta comunidade sente-se menos genuína, ao contrário, por exemplo, de um “Stray Bullets” de David Lapham, que respira violência urbana. De qualquer das formas, é evidente a preocupação dos autores no trabalho que têm com algumas destas personagens, explorando a forma como as relações e vivências têm um peso no nosso desenvolvimento. Em adição, o facto de “Southern Bastards” estar sempre a alternar entre protagonistas por volume, deixa-nos sempre a imaginar como o autor seguirá para a próxima personagem, bem como para que tipo de conclusão esta história se encaminha.
Latour continua no seu registo bruto e de tons sangrentos, para reforçar um sul carregado de sentimentos pesados, violentos. De resto, poderemos não estar presentes a um trabalho denso dentro dos temas a que se propõe tratar, mas é inegável que Aaron continua a trabalhar aqui uma leitura de bom entretenimento que mantém o nível de qualidade que associamos hoje aos trabalhos da Image Comics.
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