“Embora te custe a acreditar, a desigualdade é algo como as bicicletas: tem muitas formas e podes encontrá-la em todo o lado. Mas, claro, não é assim tão chamativa nem fácil de ver.”
A analogia entre desigualdade e uma bicicleta é o toque de partida para o livro “Somos os 99%” (Nuvem de Tinta, 2018) nos levar numa viagem sobre rodas, com o objectivo de alertar consciências para a distribuição da riqueza mundial e as injustiças sociais. Primeiro compreender a verdade, depois mudar o mundo, tornando-o mais justo, igualitário e sustentável – é esta a premissa dos autores Marc Grañó e Gonzalo Fanjul.
Para isso acompanhamos cinco jovens que não se conhecem e com experiências de vida diferentes que, montados nas suas bicicletas, todos os dias vêem algo que os une e os afecta profundamente: a desigualdade. A partir de situações vividas por Edgar, Samira, Fabián, Paul e Kassia, os autores mostram de que forma a desigualdade limita as suas vidas, seja na educação, na saúde, na alimentação, na utilização de recursos naturais ou na emigração.
Dividido em cinco capítulos, cada um dedicado a um jovem e à sua perspectiva sobre a desigualdade, o livro leva-nos a reflectir sobre a forma como esta se encontra em todo o lado e afecta a todos. Os autores põem os dados em cima da mesa, dados que estão longe de serem animadores: “Um por cento a população mundial detém metade da riqueza do planeta. A outra metade é repartida pelos restantes 99%. Mas esses 99% são afetados diariamente pelas decisões tomadas pelo 1% mais rico, que impõe a injustiça da igualdade a todos nós, interferindo com as nossas oportunidades, com o nosso futuro”.
Dirigido aos mais novoss mas com uma mensagem importante e esclarecedora para todos, “Somos os 99%” vai intercalando as histórias dos jovens com dados concretos e explicações simples e claras, que permitem ao leitor ‘abrir os olhos’ para a realidade. Ed Corosia vai pautando algumas páginas com gráficos e ilustrações que tornam a leitura agradável e apelativa.
Um livro que interpela, que fala connosco, que nos questiona e nos faz questionar, não só pelo tipo de escrita mas, também, pelo tema em si. A título de exemplo, conta-nos que bastaria um quarto da comida desperdiçada por ano para podermos alimentar os 800 milhões de pessoas que passam fome. Dá que pensar. No final, os autores deixam algumas dicas sobre o que cada um poderá fazer para combater a desigualdade, bem como um apelo: “Não permitas que a ignorância te converta, sem querer, em cúmplice da desigualdade”.
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