É mais um grande comic que chega às livrarias nacionais com o selo da G. Floy, e que foge ao clássico universo dos super-heróis. Misturando drama, acção e fantasia,“Sete Para a Eternidade: Livro Um” (G. Floy, 2020) conduz-nos até às terras de Zhal, lugar onde o Deus dos Sussurros lançou um estado de paranóia total, tendo ao seu serviço espiões e esbirros que nunca mais acabam.
O herói de serviço dá pelo nome de Adam Osidis, um cavaleiro moribundo nascido numa família caída em desgraça, tudo porque o pai se recusou a vergar diante do crescente poder de Garlis Sulm, “o homem que conheceu como o Deus dos Sussurros” – ou, como era chamado no seu universo familiar, o Rei da Lama.
Recusando trocar a liberdade por uma aparente vida confortável e a ilusão de segurança, Zebediah Osidis foi desta para melhor, deixando a família com uma reputação que os torna indesejados por onde quer que passem, entregues a uma vida onde a sobrevivência diária é uma missão de monta. Deixa, porém, alguns conselhos ao filho, que considerava serem a bússola da vida. Pérolas como esta: “As verdades mais simples da vida, Aam, as ideias que parecem banais e óbvias, são as que mais precisam de ser repetidas”.
A caminho do encontro com o Deus dos Sussurros, numa viagem que irá terminar com o dobrar do joelho e a conquista de uma liberdade espartilhada, Adam dá de caras com os Mosak, uma “tribo” sobrevivente que actua como uma espécie de Resistência, e que lhe oferecem a hipótese de a eles se juntar para a difícil missão de livrar Zhal do Rei dos Sussurros. Uma missão ao nível de um Tom Cruise na melhor das formas: antes de pensarem em despachar o Rei, terão de arranjar forma de remover a ligação que este mantém com todos aqueles que aceitaram a sua proposta, caso contrário também estes conhecerão o mesmo destino fatídico.
Rick Remender leva os leitores numa viagem estranha e alucinante a um mundo sem calendário ou geografia terrenas, onde descobrimos coisas como pregos que contêm o sangue de ancestrais – e que libertam feitiços incríveis – ou um flautista ainda mais terrível que aquele de Hamelin, sempre ao redor de questões que dizem respeito à honra, à ética, aos legados e às memórias familiares – e, mais do que isso, às escolhas que fazemos pelo caminho, que podem ou não contrariar uma máxima aqui vendida: “Não existem boas pessoas. Somos meras máquinas movidas pelo desejo. Só queremos ser satisfeitos”.
As ilustrações de Jerome Opeña são um mimo e, no final somos ainda presenteados com uma série de esboços a uma cor e com traço fino – além de uma galeria de capas alternativas de encher o olho. Uma série com pernas para andar.
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