Imaginem o universo de Agatha Christie onde, no lugar do chá das 5, teríamos o brunch das 11, com o peculiar e metódico Poirot a dar lugar ao inspector-chefe Adam Fawley, um tipo com dificuldade em lidar com homens que choram e que carrega consigo um passado traumático. Algo que faz com que, no silêncio da observação dos cenários de crime, possa partilhar com o leitor tiradas como esta: “Nunca percebi porque é que as pessoas compram alcatifas claras, sobretudo quando têm crianças, mas não me parece o momento certo para discutir essa questão”.
Cara Hunter, autora da série protagonizada por Fawley, vive em Oxford, numa rua que, segundo a própria, não será muito diferente daquelas que servem de cenário aos seus livros – apesar de ter feito alguns desvios à geografia real e inventado alguns lugares pelo caminho. Em “Sem Culpa” (Porto Editora, 2023), o mais recente livro da série publicado em Portugal, Hunter leva Fawley a enfrentar mais alguns dos esqueletos que escondeu no seu armário.
Uma chamada para a polícia dá o alerta para uma quinta isolada, nos arredores de Oxford, onde um corpo foi baleado à queima-roupa. Aparentemente trata-se de um assalto que deu para o torto, mas as campainhas de Fawley não páram de tocar, recusando-se a encerrar um caso que parece mais do que explicado.
A confirmação de que há algo mais dá-se quando a polícia liga este caso a um outro mais antigo, que envolveu o homicídio não resolvido de uma criança e um erro judiciário, o que faz com que a equipa de Fawley passe a ser capa de jornal, sujeita a um escrutínio de todo o tamanho.
Cara Hunter traz-nos as habituais reviravoltas ao estilo de uma montanha-russa, num livro que conta com um bom enredo, personagens tipicamente britânicas e um puzzle que caberá ao leitor montar. Temos série, assim o queira Cara Hunter – autora de quem a Singular, uma chancela da Porto Editora, acaba de lançar “Crime em Família”, um thriller que não integra a série Adam Fawley.
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