É o quinto livro da colecção Biblioteca dos Tesouros, que tem chegado às livrarias com o selo editorial da Sextante Editora, publicada em capa dura com uma fita-marcador e uma lombada em tecido que transforma estes livros em objectos que parecem chegar de uma outra época, impregnados do espírito clássico.
Publicado originalmente em 1921, “Scaramouche” (Sextante, 2018) narra a história do jovem advogado André-Louis Moreau, alguém que “nasceu com o dom do riso e com a consciência de que o mundo era louco. E era esse todo o seu património”. Uma frase que abre o livro e que é, também, o que ficou escrito para a posteridade na tumba do autor.
Filho de mãe inglesa e pai italiano, ambos cantores de ópera, Rafael Sabatini teve uma infância itinerante que o fez estudar, durante um ano, em Portugal. A sua obra inclui, a par de “Scaramouche”, alguns dos mais famosos romances históricos de aventuras de sempre, entre eles “Sea Hawk” (1915) e “Captain Blood” (1922).
André-Louis é um daqueles seres que se passeiam pelo mundo com uma aura magnética, com doses iguais de eloquência e de descaramento, alheios ao bulício que os rodeia, e que se move “contra a falsa sedução da sentimentalidade vazia e inútil”. Um protegido de Quintin de Kercadion, o Seigneur de Gavrillac, que muitas boas e más línguas dizem ser o pai não assumido.
Quando o seu amigo de infância Philippe de Vilmorin é assassinado num desleal duelo pelo marquês de La Tour d`Azyr, tudo devido às suas ideias revolucionárias que põem em causa o intocável estatuto da nobreza, André-Louis jura vingança. Antes disso, e em tempos muito agitados que precedem a Revolução Francesa, irá encontrar refúgio sob a máscara de Sacaramouche, podendo representar em palco tal como sempre o fez na vida, abraçando uma vida itinerante que o faz também abraçar a política e tornar-se mestre de esgrima.
Vestido com a roupagem de um romance de aventuras, “Scaramouche” tira o retrato aos tempos que precederam e ultrapassaram a Revolução Francesa, com toda a sua força popular, os seus excessos e os seus aproveitamentos, e fá-lo recorrendo a um personagem arrogante e insípido, que se vai transformando e ligando tenuemente ao mundo, tomando consciência do papel subalterno reservado à mulher ou da hipocrisia que move cada um dos degraus da escada social. Alguém que, fintando a sua palidez emocional e o desinteresse pelos caminhos do poder, acaba por traçar o desenho de uma sociedade ideal: “Eu quero uma sociedade que escolhe os seus governantes de entre os melhores elementos de todas as classes e rejeite o direito de qualquer classe ou coorporação de usurpar o governo para si própria, seja ela a nobreza, o clero, a burguesia ou o proletariado. Um governo nas mãos de qualquer uma destas classes será fatal para o bem-estar do todo”. En garde!
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