“Não podemos continuar a viver como se não houvesse amanhã, porque existe um amanhã” – as palavras são da jovem activista Greta Thunberg, personalidade do ano de 2019 para a revista Time.
É hoje consensual, na comunidade científica, que o nosso Planeta está a aquecer devido às acções humanas, em direcção a um futuro cada vez mais letal e irreversível. Mas a escala do problema faz com que a ameaça pareça vaga, abstracta, distante da nossa vivência do dia a dia. Como podemos aceitar que a emergência climática é real? De que forma podemos sentir-nos motivados a desarmar este cataclismo?
São estas as questões que residem no coração de “Salvar o Planeta Começa ao Pequeno-Almoço” (Objectiva, 2020), do escritor Jonathan Safran Foer. A tese central é bastante directa: a indústria agro-pecuária é uma das grandes responsáveis pelas emissões de Co2 que causam o efeito de estufa, e a principal causa da desflorestação. Se as vacas fossem um país, estariam em terceiro lugar na lista de emissores de gases com efeito de estufa, depois da China e dos Estados Unidos.
Não podemos salvar o Planeta a menos que se reduza significativamente o consumo de alimentos de origem animal. Se não consegue resistir ao apelo de um bife suculento, pense no seguinte: se abdicar da proteína animal apenas ao pequeno-almoço e ao almoço, essa alteração na dieta individual poupa cerca de 1,3 toneladas de CO2 emitido ao ano – por pessoa! Mas o difícil é sentirmo-nos motivados para agir, uma vez que os nossos sistemas de alarme não estão configurados para ameaças conceptuais.
O livro está construído como uma série de ensaios curtos, muito bem escritos, que algumas vezes nos aterrorizam, outras nos comovem, mas são sobretudo chamadas de atenção pungentes para um problema que ameaça pôr um ponto final na Humanidade. Foer é um escritor dotado, e não se limita a pregar um moralismo ambientalista bacoco – antes abre a sua alma e partilha os dilemas e contradições de uma pessoa normal, quando confrontada com a verdade inamovível de que estamos a destruir o nosso Planeta.
Ao mesmo tempo, o autor entrelaça as suas experiências mais íntimas e pessoais com o tema do livro, seja quando fala dos últimos dias da sua avó ou quando estabelece extensas analogias entre a II Guerra Mundial e o combate contra as alterações climáticas.
Apesar de o futuro da Terra parecer cada vez mais negro, pejado de florestas queimadas, cheias destruidoras e céus sulfurosos, continuamos a comportar-nos como se a crise climática fosse um problema dos políticos e das corporações.
“É verdade, há sistemas poderosos – capitalismo, exploração pecuária industrial, o complexo industrial dos combustíveis fósseis – que são difíceis de desmontar”, escreve Foer. “Nenhum motorista pode provocar um engarrafamento no trânsito. Porém, nenhum engarrafamento de trânsito pode existir sem motoristas individuais. Estamos encalhados no trânsito porque somos o trânsito“.
O livro foi escrito antes da pandemia que veio alterar as contas: segundo os últimos dados, o Covid-19 provocou uma quebra de 8% nas emissões de gases com efeito de estufa, este ano. O vírus ofereceu-nos uma década extra para resolver o problema, e mostrou de forma dramática que não é impossível mudarmos de vida.
“Quando é necessária uma mudança radical, muitos defendem que é impossível que as acções individuais a incitem, pelo que será fútil que alguém o tente”, conclui o autor. “Isto é precisamente o contrário da verdade: a impotência da acção individual é uma razão para que todos tentem“.
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