Continuamos em modo rentrée, desta vez atravessando o Atlântico a nado para dar conta daquilo que a Companhia das Ilhas está a preparar para o que resta de 2022.
Já nas livrarias
O Grande Cidadão
Virgílio Martinho
Segundo volume das Obras de Virgílio Martinho
Texto precedido de O MEU VIRGÍLIO, por Vitor Silva Tavares, e, em jeito de posfácio, A MINHA PROFISSÃO, por Virgílio Martinho; Nota biográfica e Notícia bibliográfica por Carlos Alberto Machado
«O Grande Cidadão é um romance de aventuras. O seu herói chama-se Alquimista pela simples razão de que, em criança, entre os seus companheiros de rua, se gabava de poder fabricar moeda de ouro. Mas ele não é de ouro nem de prata – é um criminoso susceptível de ser condenado por qualquer código penal. O livro passa-se numa cidade imaginária onde a abjecção se tornou a moral comum. Talvez por este motivo flagrante o Alquimista, ao sair da penitenciária após vinte anos, verificou que encontrara uma outra cidade, mais vasta e complexa – onde todos os gestos humanos tinham de ser convencionais e o futuro, tal como o presente, sinónimo obrigatório de ideologia ou morte. Era uma cidade aterrorizada. Mas o romance é ficção, não se passa em lado algum, embora a história seja antiga e se processe onde vive o homem que perdeu a coragem para resistir e salvaguardar os seus valores originais. Devia tratar, ou trata, se acaso o consegui, de um tema simples como as pessoas podem ser reduzidas à condição de animais. Como, entre essa população mutilada, podem existir homens que emergem libertos e decididos a correr os maiores riscos, por leis que, além de misteriosas, são inexoráveis. Mas não é um livro messiânico, não é um livro político, embora se fale dos que podem salvar, dos que morrem, dos que mentem, dos que monopolizam o poder, dos que traem, sendo homens, os seus irmãos, regra geral distraídos e ingénuos. E na cidade esboçada no livro nada resta aos cidadãos, as suas vidas foram sujeitas, por um pequeno ou descomunal artifício, à sedução mais completa. Se é neste extremo que nos encontramos, ou nos podemos encontrar em dado momento, é lógico supor que os seres foram transformados em peças de um complexo e monstruoso sistema, que é afinal, paradoxalmente, o deles. Porque eles, os seres de O Grande Cidadão, ajudaram-no a erguer-se, alimentaram-no, e são incapazes de não se corromperem numa atmosfera onde tudo é corrupção. Se o livro é imaginário, os seus ingredientes são fidedignos. É apenas uma crónica, um relato das aventuras de um fora-da-lei constitucional, da sua mãe, da velha e gorda ex-prostituta Mamã, de Benvinda, de Heliodoro, o homem dito positivo mas inquieto, de Salomão e das suas ideias de fraternidade, por fim de desespero, também de Agripina, a cartomante. E todos eles, que respiram entre monstros actuantes ou inertes, resistem, tentam, acabam por morrer danados. Mas que resta às pessoas, quando as insultam, senão a raiva? O Alquimista sobrevive. Esta sobrevivência é para mim, suposto habitante dessa cidade, a continuação do mistério magnífico que é o homem. Não é um livro neo-realista, deve estar longe do “novo-romance”. Mas que é um livro neo-realista? O que é um “novo-romance”? De facto, o que será um livro? Seja como for, em O Grande Cidadão, a vida e a morte estão rarefeitas, erradas, inquinadas de raiz, a existência é caricatural, o Homem pode ser impunemente estropiado pelo outro homem. Para isso existe a máquina exterminadora de que a História nos dá testemunhos e exemplos sem conta.»
Virgílio Martinho
Muito Mais que Paisagem
100 anos de Pedro da Silveira
Leonor Sampaio Silva et alii (coord.)
COORDENAÇÃO: Ana Cristina Gil, Leonor Sampaio da Silva, Madalena Teixeira da Silva e Urbano Bettencourt. TEXTOS Alexandre Borges; Ângela de Almeida; Daniel Gonçalves; Eduíno de Jesus; Ivo Machado; João de Melo; João Pedro Porto; Joel Neto; Judite Canha Fernandes; Leonardo; Leonor Sampaio da Silva; Maria João Ruivo Nuno Costa Santos; Paula de Sousa Lima; Pedro Almeida Maia; Pedro Paulo Câmara; Renata Correia Botelho; Urbano Bettencourt.
ILUSTRAÇÕES Ana Piques; Anita Peixoto; Inês Carvalho; Isabel Frazão; Leonor Fernandes; Madalena Serpa; Margarida Cruz; Margarida Melo; Maria Oliveira; Natália Tavares; Natasha Brasil; Pedro Reis; Sara Kim; Sofia Sousa.
Muito Mais que Paisagem lembra e celebra a passagem de cem anos desde o nascimento do poeta Pedro da Silveira. Estabelece entre o tempo presente e a sua obra um elo de reconhecimento, ao conter em si um conjunto heterogéneo de vozes da contemporaneidade literária açoriana, cujos textos, aqui, vêm vivificar o diálogo com a poética do florentino. As ilustrações dos alunos da Escola Secundária Antero de Quental resultam da mesma aproximação ao trabalho do escritor e retratam a reinterpretação com o que o podem fecundar as linguagens e perspectivas de actos artísticos de outras naturezas. Trata-se, assim, de um objecto de memória, este livro, que sinaliza a importância do vasto legado literário de Pedro da Silveira e que apela ao contacto com a sua obra também como modo de reler e de enriquecer a intervenção artística no presente.
A publicar
Almanaque Fantástico, Cómico e Científico
Manuel João Gomes
Setembro
«Este almanaque é dedicado a Júlio César, não o tirano mas o sábio que dividiu o ano em meses de trinta dias, baptizando com o seu nome o mês de Julho, a D. Afonso X, o sábio poeta que em 1252 dividiu o ano em 365 dias, ao papa Gregório Magno que em 1752 estabeleceu a folhinha do Calendário, tal como ela hoje existe, aos revolucionários de 1793, que mudaram os nomes dos meses gregorianos por outros mais republicanos, a Alfred Jarry, pai do ubuesco Rei Ubu, que em 1889 congeminou o Almanaque Ilustrado de Ubu, mudando os nomes aos santos do Calendário, a todos os santos expulsos deste nosso Almanaque da Meia-Noite nos dias em que houver outras coisas a celebrar, a Bell e a Edison que há 101 anos inventaram respectivamente o telefone e o telégrafo.»
Manuel João Gomes
Palpites para Má-língua e Sevícias (vol. 2)
Narciso Pinto
Outubro
Novela fragmentada e escaqueirada em mitos, relatos, intrigas, ensaios, diálogos, curtas, boatos, arquivos e cartas, tendo por mote e desígnio o registo de uma era particularmente vizinha da que nos assombra a existência. O autor não se coíbe de explorar exaustivamente o insólito, o grotesco e a violência que irrompem do quotidiano aparentemente mais comezinho, deixando todo e qualquer protagonista à mercê de si mesmo e da sua sina. Através da lente pícara e obsessiva do autor, que à
distância devida observa o desencadeamento natural das tramas, constatamos que a vileza e predileção pela maledicência são forte apanágio de todos os participantes. Será plausível, porém, supor-se que boa parte do enredo seja até encenado. É um palpite.
O Terramoto
Judite Canha Fernandes
Outubro
«A pessoa que me fez desejar este livro foi a Margarida. Melhor, alguém me falou da aventura peculiar
da Margarida. Ela tem 74 anos e é, podemos dizer, a protagonista. O Terramoto começa porque ela toma uma decisão. Anuncia ao mundo que irá fazer-se explodir, se necessário, para que não a expulsem da sua casa. Esse seu gesto, como todos os gestos, é por muitos outros gestos precedido e motiva uma série de réplicas. Depois, e antes, O Terramoto vai atravessando um pedaço da vida – digo da, não de. Da vida que emana das plantas, dos sonhos, das pessoas, das paredes.»
Judite Canha Fernandes
O Quarto do Pai
Maria Brandão
Outubro
Entre a realidade e o delírio, a memória e a ficção, a gravidade e o humor, o presente e o passado, a reflexão e o retrato do tempo, O Quarto do Pai é uma expedição ao labirinto da vida de um homem singular. Um homem caprichoso e exigente, aproveitador dos prazeres mundanos, obcecado pelas suas paixões e pela sua família, preso numa urdidura cruel que lhe rouba a dignidade e o suga para o abismo. Esmurrado, mas não vencido, sob o efeito de drogas instigadoras de grandes alterações de consciência, resiste tenazmente ao mais óbvio dos destinos e toma o comando de uma narrativa reveladora do mais íntimo de si.
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