Quando pensamos na História da Grécia, as ideias-chave que normalmente nos ocorrem provêm da antiguidade clássica, como a filosofia, a democracia, os jogos olímpicos e a guerra de Troia. No entanto, há muito mais para contar. A História Contemporânea da Grécia é rica em acontecimentos e ajuda-nos a compreender melhor como esse país é na actualidade.
“Quem é Amado Nunca Morre”, de Victoria Hislop (Porto Editora, 2020), começa em 2016, num pequeno apartamento em Atenas, onde quatro gerações se reúnem, apesar da crise económica, para festejar o aniversário de uma senhora idosa, “pequenina, de cabelo prateado”, chamada Themis. Após o final da festa, apenas dois netos ficam a fazer-lhe companhia, e a idosa, perante a perspectiva de voltar a ficar só com um marido cuja mente já partiu, sente-se impelida a partilhar com eles as suas memórias.
Desta maneira, somos transportados para 1930, quando Themis é a mais nova de quatro crianças num lar degradado, onde vai crescendo com parcas doses de amor e atenção. O desabar da casa poupa a pequena, mas acelera a separação da família. A avó paterna acolhe-os, mas a mãe acaba internada num hospital psiquiátrico e o pai troca as longas ausências devidas ao trabalho na marinha mercante pela partida definitiva para a América.
Apesar das suas boas intenções, a avó é incapaz de manter a concórdia familiar. Em 1936, num ambiente de agitação política e social, é implementada uma ditadura nacionalista. Panos, o irmão com que Themis mais se identifica, com um forte sentido de justiça social, revolta-se contra o regime, enquanto o outro rapaz e a rapariga mais velha aderem fervorosamente às suas doutrinas, vindo mais tarde a apoiar a ocupação nazi da Grécia durante a Segunda Guerra Mundial. Themis tenta refugiar-se nos estudos, mas deixa de conseguir fazê-lo depois de ver a sua a melhor amiga morrer de fome. O país é reduzido à miséria e o fim da guerra mundial leva a uma guerra civil entre ideologias. Seguindo o exemplo de Panos, Themis parte para combater nas montanhas com a guerrilha comunista, que esteve na linha da frente da resistência aos nazis, mas é capturada e passa meses na prisão, onde será levada a “pesar os seus princípios contra o desejo de viver”.
Nos 15 anos após a sua libertação, Themis tenta interessar-se menos por política. Mas em 1967 ocorre outro golpe de Estado militar e a nova ditadura de direita, que perdurará até 1974, retoma a violência contra os opositores de opinião, atingindo duramente a família que Themis constituiu.
Com esta narrativa soberba, a autora entrelaça a complexa história da Grécia com a vida de uma mulher impelida pelas circunstâncias para um destino incomum e que, tal como o seu país, tem de enfrentar o passado para construir o futuro.
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