“Liderar uma equipa de super-heróis justiceiros é muito complicado, sobretudo quando não podemos contar à nossa mãe“. Ou, também, quando se tem de chegar a casa o mais tardar às oito e meia da noite. Quem o diz é Murph Cooper, um puto normal que, por um desentendimento gramatical mais profundo que um erro burocrático, acabou por ingressar numa escola de super-heróis, tornando-se num mais do que improvável super-herói. Mas isso foi já há muito tempo e, nestas coisas de heroísmos, ninguém pode dormir muito tempo sobre os louros conquistados (ler crítica ao primeiro livro da série aqui).
Em “Puto Normal e os Supervilões” (Gailivro, 2018), a segunda aventura deste puto normal como o são a maior parte dos putos, Murph vê-se na pele de líder de um grupo que praticamente toda a escola vê como uma trupe de super-totós. Para além de Murph, sem qualquer poder ou habilidade para mostrar, temos um grupo muito dado à heterogeneidade: Nellie Lee, ou Sombra de Chuva, versada na manipulação meteorológica; Mary Perkins, ou Mary Canary, perita no evitamento do solo; Billy Talbot, o Rapaz Balão, capaz de insuflar partes do corpo ou objectos próximos – às vezes sem querer; e Hilda Baker, ou Equana, que do nada consegue conjurar dois cavalos pequeninos.
O livro começa com um assalto a um museu, mas a verdadeira trama tem início quando um homem de preto, preso há trinta anos numa cela que mais parece uma fechadura para a qual não foi feita uma chave, escreve com uma pedra, no chão de granito, a seguinte mensagem: “Estou pronto para falar. Tragam-me o puto normal“.
Ainda indiferente a toda esta trama, que está ao nível de um dos melhores episódios da Missão Impossível, Murph e companhia começam mais um ano nesta Academia aparentada à escola do Professor Xavier e dos seus X-Men que, para mal dos pecados do Professor Flash, irá fundir as duas turmas – a das capas “poderosas e úteis” com a das capas “esquisitas”. Flash que não se coíbe, porém, de dar a uma delas tarefas tão fixes como limpar o pó ou organizar um arquivo de milhares de volumes.
É então que entra em acção a Sra. Flint, que, como a M do James Bond, combate o crime onde quer que ele se encontre, tratando de enviar os heróis escroques – dito de outra forma, os membros da Aliança que descarrilaram – para Areias Movediças, a prisão mais segura do planeta. Sem querem dar ouvidos ao ditado de que a curiosidade mata, Flint confere a missão a Murph de ir escutar o que o homem de preto tem para dizer. Em princípio a coisa não poderá correr mal, uma vez que este perigoso vilão tem a incrível habilidade de roubar os poderes dos heróis – e Murph, já se sabe, não tem nada de valente para mostrar. Ou terá?
Greg James – locutor do programa Drivetime, da BBC Radio 1 e, também, apresentador do programa Sounds Like Friday Night, na BBC One – e Chris Smith – locutor e jornalista, conhecido por apresentar o programa Newsbeat na BBC Radio One – assinam mais um divertido livro para a pequenada, onde ao humor britânico se junta uma trama bem desenhada, arrancada ao lado mais imaginativo do cérebro. Num universo onde a competição é feroz, o puto normal tem tudo para vingar. E sem precisar de poderes especiais.
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