É mais um thriller que vem do frio, assinado pela britânica Sharon Bolton, de quem a Marcador havia já publicado “O Pacto”. À superfície, “Prisão de Gelo” (Marcador, 2023) tinha tudo para ser apenas um thriller sobre a violência doméstica, mas acaba por se revelar uma boa e intrincada surpresa.
Felicity, a protagonista, deixou Inglaterra para trás para escapar ao marido (Fred), aceitando um trabalho numa pequena ilha no meio da Antártida. O Inverno está à porta e, com ele, o isolamento em relação ao mundo durante alguns meses, mas há ainda que esperar pela chegada do último navio – que poderá trazer o mais indesejado passageiro.
Há, porém, muito mais do que um violento arrufo doméstico nesta história, sobretudo quando entra em cena Bamber, alguém que diz caminhar, dormir e levantar-se com os fantasmas – e que, percebe-se desde logo, tem um parafuso mal enroscado na cabeça.
A Bamber junta-se uma galeria de personagens de monta, que vai da radiografia mental pouco invasiva de Joe, um psicólogo de bom temperamento e paciência infinita, a Delilah, uma oficial superior da polícia local que, segundo a própria, é “a cabra mais insensível de Cambridge”.
Entre o assassinato de sem-abrigo, o desaparecimento de pacientes e viagens atribuladas entre a histórica Cambridge e a inóspita Geórgia do Sul, Sharon Bolt cozinha um thriller vertiginoso com muitos arrepios e comprimidos pelo meio, acrescentando-lhe um toque National Geographic que o tornará num especialista em glaciares.
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