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Prelúdio à Fundação, Isaac Asimov, Deus Me Livro, Crítica, Saída de Emergência
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“Prelúdio à Fundação” | Isaac Asimov

Por Pedro Miguel Silva · Em 22/04/2024

“Quando escrevi «Fundação», que apareceu no número de Astounding Science Fiction de Maio de 1942, não fazia a menor ideia de que iniciara uma série de histórias que acabariam por se estender ao longo de seis volumes, num total de 650.000 palavras (até agora).”

Quem o escreve é Isaac Asimov no prefácio a “Prelúdio à Fundação” (Saída de Emergência, 2023), livro que, aquando da sua publicação original em 1988, se tornava o sexto da série – e o primeiro da ordem temporal. Depois deste, Asimov ainda juntaria à série “Origens da Fundação” – o segundo na cronologia temporal -, e mais não escreveu apenas porque partiu à velocidade da luz em Abril de 1992, deixando como legado – um deles – uma das mais fascinantes séries de ficção científica que poderão ler – e isto mesmo que achem que a ficção científica é coisa de nerds ou chalupas. Fundação é coisa – e literatura – séria, e este “Prelúdio à Fundação” é bem capaz de ser o melhor dos livros, devendo ser lido apenas após “Fundação”, Fundação e Império”, “Segunda Fundação”, “Limites da Fundação” e “Fundação e Terra”, deixando para o final “Origens da Fundação” – publicado no início deste ano pela Saída de Emergência.

Estamos no ano 12.020 da Era Galáctica, que tem Cleon I como o imperador de Trantor. Capital do Império Galáctico, em Trantor vivem cerca de 40 mil milhões de habitantes, que criaram uma civilização complexa tanto a nível tecnológico como cultural. Por detrás de uma aparente calma, Cleon I sabe que há muitos que, nas sombras, preparam o ataque ao trono, e que o mínimo descuido poderá alterar quem manda no Império.

Quando o jovem, incauto e desconhecido Hari Seldon chega a Trantor para apresentar uma inocente palestra, está longe de saber que, em breve, se irá tornar no mais procurado – e disputado – homem do Império. Tudo porque, segundo ele, existe a possibilidade teórica de desenvolver uma nova ciência, capaz de prever matematicamente o futuro da Humanidade, que receberá o nome de psico-história. E, mesmo que considere trata-se de algo possível mas muito pouco provável, será levado a aceitar este hercúleo desafio, que poderá bem ser a chave para o futuro do Império.

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Depois de, nos livros anteriores, Asimov ter apresentado Hari Seldon como uma figura mítica, e eterna graças à matemática e à psico-história, é tempo agora de o trazer para as páginas enquanto uma figura pouco graciosa, um mortal preso por arames. “Tal como o Imperador Cléon I, tinha trnta e dois anos, mas media apenas 1,73 metros de altura. Tinha um rosto suave e alegre, cabelo castanho-escuro, quase preto, e a sua roupa exibia um inconfundível toque provinciano. Para alguém que, um dia mais tarde, apenas conhecesse Hari Seldon como um semi-deus lendário, pareceria quase um sacrilégio que ele não tivesse cabelo branco, nem um rosto sulcado de rugas ou um sorriso tranquilo que irradiasse sabedoria, nem tivesse de andar de cadeira de rodas. Todavia, mesmo então, numa idade avançada, os seus olhos eram animados. Havia isso”. Alguém que dizia ser pelo Império – isto é, pelos mundos de humanidade em paz e união –, mas não necessariamente pelo Imperador.

Passando a viver como um fugitivo, Hari Seldon irá embarcar numa jornada épica, visitando lugares tão estranhos como Micogénio, “enterrado no passado das suas próprias lendas”, um mundo uniforme e muito patriarcal; visitando florestas suspensas; ou colocando a vida em risco ao caminhar sobre a face superior, uma série de cúpulas nas quais as temperaturas eram em alguns dias semelhantes às dos polos terrestres, e sob as quais residia a imensa colmeia humana. Pelo meio, Asimov diverte-se a apresentar o planeta Terra como uma lenda ou uma história para crianças, nunca esquecendo um olhar ambiental ou (sempre) político. Como quando, a certa altura, trata de mostrar como funciona a sede de poder. “Resolvem os seus ressentimentos, desfrutam de toda a presunçosa auto-satisfação própria do jovem revolucionário, e, quando vão ocupar o seu lugar na hierarquia imperial, estão prontos para se instalarem na conformidade e na obediência. (…) Quanto ao estatuto, é o género de empurra e puxa que eu preferiria evitar. Já vi muitas pessoas com estatuto, mas ainda estou para ver uma que seja feliz. O estatuto não fica parado a amparar-nos; temos de lutar continuamente para não nos afundarmos. Até mesmo os imperadores arranjam maneira de acabar mal na maior parte das vezes”. E, no meio de tudo isto, ainda arranja tempo para nos surpreender com uma trama capaz de fazer inveja a Agatha Christie. Cinco estrelas.

CríticaDeus Me LivroIsaac AsimovPrelúdio à FundaçãoSaída de Emergência

Pedro Miguel Silva

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