Jeannine Johnson Maia foi jornalista na Bélgica e em Washington. Na qualidade de assessora de imprensa, integrou a missão norte-americana junto da União Europeia, em Bruxelas. Estudou nos Estados Unidos (licenciada em Política Externa pela Universidade de Virgínia) e em Itália, ensinou Inglês em França e viveu em Cabo Verde. Apreciadora de temas históricos, busca a história por detrás da História. Vive actualmente na cidade do Porto.
“Praça do Rossio, nº 59” (Casa das Letras, 2018) é o seu primeiro romance. A história passa-se em Lisboa, em Abril de 1941 – mais concretamente entre sábado dia 5 e domingo dia 13 de Abril -, numa cidade pejada de refugiados vindos da Polónia, Checoslováquia, Itália, França e Holanda, em plena época nazi, que no único porto aberto da Europa pretendem viajar para os Estados Unidos.
As personagens principais são dois jovens: Claire, uma franco-americana vinda de Marselha, que desembarca do comboio na estação do Rossio; e António, um português empregado do café Chave d’Ouro, desenhador (e carteirista) nos tempos livres. As suas vidas vão cruzar-se numa intriga política e de espionagem muito bem urdida e bem contada, com recurso abundante aos diálogos.
O nº 59 da Praça do Rossio corresponde à Pensão Colonial para onde se dirige Claire (à procura do seu tio Vincent), lugar onde se desenrola a maior parte dos capítulos do livro num ambiente de tensão e medo, que são o contraponto dos actos heróicos (embora “ilegais”) do tio de Claire, para conseguir salvar refugiados – sobretudo judeus.
António, chocado com o assassinato de um amigo, um refugiado alemão raptado pela PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado que funcionou em Portugal entre 1933 e 1945), tudo faz para descobrir o responsável pelo crime. Quanto aClaire, acaba por enfrentar também o perigo, quando procura incessantemente duas crianças (Alicia e Serge) separadas dos pais à força na viagem para Lisboa, que se encontram abandonadas à sua sorte, tendo de ser mantidas escondidas da PVDE por serem as portadoras de um perigoso segredo, vital para os nazis.
Lendo esta trama, sustentada em casos ficcionados mas tendo por cenário uma Lisboa de grande verdade histórica, fica a convicção que a “neutralidade portuguesa” nunca terá passado de uma expressão vazia, uma vez que Salazar estava politicamente muito empenhado em não desagradar aos nazis, tornando a estada dos refugiados em Lisboa uma jornada muito difícil, se não mesmo infernal.
“Praça do Rossio, nº 59” é um retrato angustiante e redentor dos verdadeiros heróis, aqueles que emergem de uma época profundamente conturbada e de dimensão trágica na história das Nações e dos direitos humanos.
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