A dupla Ana Pessoa e Madalena Matoso não nos deixa de surpreender. “Por Exemplo, Uma Rosa” (Planeta Tangerina, 2023) é um livro ímpar. Fantástico. Criativo. Dialogante. Reflexivo. Perguntador. Lúdico.
Nas guardas inicias, surge um grande limão amarelo. Paramos e pensamos: então o livro não é sobre uma rosa? Avançamos e, em página dupla, somos tomados por objectos, árvores, animais, flores e outras coisas que conhecemos, outras que desconhecemos, umas que existem, outras que existiram e outras que talvez possam existir. Na página seguinte mais desenhos, e apenas a expressão “Tanta coisa!”. Paramos de novo e pensamos: que estranho!
O espanto continua, e muitas outras coisas vão surgir nas próximas páginas: páginas com desenhos em cores vivas, onde habitam palavras em fila; páginas com diferentes tipos de barcos, cães, cadeiras, árvores e conchas; páginas em fundo branco, só com palavras. Sempre palavras. Muitas palavras: Chapéu. Balde. Casaco. Capacete. Anéis. Bandeira. Ampulheta. Dinossauro. Fantasma. Túlipa. Buraco. Relógio. Gira-discos. Hélice. Casca. Óleo. Semente. Pirilampo. Patins. Arca. Lã. Extraterrestre. Volante – e tantas outras. Muitas. Aqui, as palavras têm cores diferentes. Sons distintos. Sentidos díspares. Tamanhos desiguais.
Há palavras que abrem e fecham coisas. Há palavras que picam e cortam. Há palavras que giram e rodam. Há palavras pequenas e grandes, muito grandes. E quantas letras há numa palavra? Três? Cinco? Sete ou dez?
Há regras para unir as palavras? Podemos combinar todas as palavras? O gigantesco mundo das palavras é fascinante. Nele descobrimos o mundo da linguagem, das coisas e a importância do nomear. Encontramos o sentido e conseguimos organizar, classificar e compreender o mundo que nos rodeia.
Aqui, as palavras são para ser lidas rapidamente, devagar ou vagarosamente. Aqui, as palavras são para brincar. Aqui, as palavras são para dialogar. Aqui, o leitor é permanentemente convidado a participar, a pensar e a encontrar o sentido das palavras.
E há rosas? Sim. Rosas amarelas, vermelhas, azuis, laranja ou até pretas. E rosas que nos fazem pensar noutros livros que já lemos. Ou rosas que simplesmente nos fazem pensar na palavra rosa. Será que a palavra rosa é cor-de-rosa? “Mas será que a palavra ROSA é uma rosa?”. Afinal, o que pensamos quando pensamos na palavra Rosa? “No meu caso, quando penso na palavra ROSA, lembro-me das rosas que ofereci e recebi, e lembro-me também da minha professora Rosa, da avó Rosa e de uma menina chamada Rosa”.
Este é um livro para termos por perto, para ler, voltar a ler e dar a ler. Este é um livro para ler a par. Para jogar. Este é um livro que nos provoca e que nos convida a perguntar, a criar novas lógicas e sentidos. Este é um livro nos inquietar.
Ana Pessoa nasceu em Lisboa em 1982 e começou a escrever histórias aos 10 anos. Estudou Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Saiu de Portugal com 22 anos para fazer um estágio na Alemanha e nunca mais voltou. Vive em Bruxelas desde 2007, onde trabalha como tradutora. O seu primeiro livro, “O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca”, venceu o Prémio Branquinho da Fonseca 2011, na modalidade Juvenil. Em 2018, foi distinguida com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço pela obra “Aqui é um Bom Lugar”. Os seus livros estão publicados no Brasil, no México, na Colômbia, na Sérvia, no Chile ou na Holanda, e foram distinguidos também por várias instituições internacionais como a FNLIJ (Brasil), o Banco del Libro (Venezuela), a Fundación Cuatrogatos (EUA) ou o Catálogo White Ravens (Alemanha). Publica regularmente na blogosfera em www.belgavista.blogspot.com.
Madalena Matoso nasceu em Lisboa em 1974. É ilustradora. Tem uma licenciatura em Design de Comunicação, pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, e uma pós-graduação em design gráfico editorial pela Universidade de Barcelona. Em 1999, criou o Planeta Tangerina com três amigos. Recebeu o Prémio Nacional de Ilustração em 2008 e 2018 e menções especiais em 2006, 2007, 2009 e 2014; Prémio Ilustração de Livro Infantil Festival de BD Amadora em 2008 e 2011 e Prémio Autor SPA/Livro infanto-juvenil em 2015. Os originais do livro “Não é Nada Difícil – O Livro dos Labirintos” foram seleccionados para a exposição de ilustração da Feira Internacional do Livro Infantil/Bolonha 2018. Este livro recebeu também uma Menção Honrosa na categoria “Children’s Picture Books” na Feira de Direitos de Nova Iorque. O livro “Montanhas” recebeu uma menção especial do júri na Feira de Bolonha na categoria Arte, Arquitectura e Design (Bologna Ragazzi Awards 2018). O livro “Para que Serve?” recebeu uma menção especial na Feira de Bolonha na categoria Não Ficção (Bologna Ragazzi Awards 2022).
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