Costuma dizer-se que, por vezes, quando não se morre da doença se morre da cura. O que, no caso dos pais da Pokko, se veio a revelar uma expressão popular bem verdadeira. Desejosos de poder contar com algum sossego, decidiram oferecer à sua filha Pokko um tambor, um erro de julgamento que se seguiu a outros como uma fisga ou um lama.
Depois desta fracassada oferta de paz, o barulho tornou-se tão intenso que o pai pediu a Pokko para ir tocar um pouco para a rua, mas sempre tratando de manter o decoro. Afinal, são uma família de rãs que vive num cogumelo e que não quer dar nas vistas. Pokko vai-se afastando aos poucos até se perder na floresta e, perante um silêncio avassalador, só lhe resta tamborilar para pôr de lado o medo.
Num ano em que os festivais de música foram cancelados e os concertos vão acontecendo a conta-gotas, “Pokko e o Tamor” (Orfeu Negro, 2020) lê-se como uma banda sonora literária, capaz de atenuar as saudades e de fazer sonhar com o tempo em que a música possa voltar a ser celebrada em turba e o devido crowd surfing.
As ilustrações fazem-se com lápis de cor e tons sóbrios, onde a natureza parece ter vida própria e as expressões surgem carregadas de expressividade e um cómico desespero, um pouco ao estilo do que Jon Klassen fez com a trilogia do chapéu, também editada em Portugal com o selo da Orfeu Negro.
Matthew Forsythe vive em Montreal, onde se dedica à ilustração de álbuns, de banda desenhada e ao cinema de animação. “Pokko e o Tambor” foi o seu primeiro álbum e recebeu a distinção de livro do ano pela Publishers Weekly e NPR (2019) e a Menção Honrosa dos Prémios Boston Globe Horn e Charlotte Zolotov (2020).
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