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Poesia Grega, Frederico Lourenço, Quetzal, Deus Me Livro, Crítica
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“Poesia Grega” | Frederico Lourenço (tradução, notas e comentários)

Por Pedro Miguel Silva · Em 18/09/2020

“Uma amostra representativa de diferentes géneros poéticos cultivados na Grécia Antiga, incidindo na poesia lírica, elegíaca, iâmbica, epinícia e bucólica”.

É este o cartão-de-visita escrito por Frederico Lourenço (FL) para “Poesia Grega” (Quetzal, 2020), livro que apresenta um núcleo de textos já antes incluídos em “Poesia Grega de Álcman a Teócrito” (Cotovia, 2006), com a diferença de, nesta nova edição, os textos serem apresentados em edição bilingue (português e grego), e de o número de poetas representados ter aumentado, passando a incluir, por exemplo, passagens de Hesíodo ou fragmentos de Calímaco. Texto grego que, segundo o autor, foi apresentado “da forma mais simples possível, com o mínimo de sinais diacríticos”.

Relativamente a Hesíodo, ainda há quem mantenha uma discussão ao estilo da do ovo e da galinha – o ovo acabaria por ganhar a disputa ao fim de séculos de pancadaria -, se bem que aqui a questão seja decidir qual é o texto da antiguidade clássica mais antigo que nos chegou às mãos: a Ilíada de Homero ou a Teogonia de Hesíodo. São de Hesíodo os poemas “O mito de Pandora” e “O mito das cinco idades”, onde propõe “explicações alternativas para a situação lamentável do ser humano na terra”, ou o mais explícito “A castração de Úrano e o nascimento de Afrodite”.

De Álcman, poeta do século VII a.C., temos “Grande Partenéion”, que está muito perto de uma party à grega: foi composto para ser cantado por um coro de donzelas durante um festival religioso, com “mais enigmas do que certezas”.

Semónides, que de acordo com FL é o autor do “poema mais desconcertante de toda a literatura grega”, intitulado “Sátira contra as mulheres”, onde encontramos uma misoginia a roçar o absurdo: “Pois onde há mulher, os homens nem podem receber amistosamente um convidado em casa” – e isto depois de falar em “porca de longas cerdas”, “raposa matreira” ou “burra cinzenta”.

De Mimnermo, incluem-se poemas que tocam “a capacidade da felicidade humana, o prazer do sexo, a transitoriedade da beleza física, a tristeza da velhice”.

Quanto a Safo, que representa a ideia da perfeição em verso, explora “o efeito do carisma amoroso produzido na mulher pela própria mulher”.

Íbico, “um cantor refinado do amor homoerótico”, foi exímio nas odes triunfais que escreveu em homenagem aos vencedores dos jogos helénicos.

Anacreonte foi uma precoce “vítima” de plágio por parte dos seus muitos dedicados seguidores, que no entanto não parecem ter conseguido imitar “a sua força irónica, o enlevo quase metafísico e a amargura erótica”.

De Teógnis, autor de um bloco poético constituído por 1389 versos de “qualidade muito desigual”, são aqui mostrados 250 versos de um poeta que, segundo FL, veiculava um ideal aristocrático.

Poesia Grega, Frederico Lourenço, Quetzal, Deus Me Livro, CríticaEm grande destaque está Píndaro, que terá definido o próprio conceito da poesia lírica. Nesta edição temos aquele que é considerado por muitos o mais belo poema da poesia grega: a Ode Pítica I. Uma obra que fala “do arrebatamento triunfante da realização humana; mas também da efemeridade do homem”.

Há também, como referido anteriormente, Calímaco, que desenvolveu grande parte do seu trabalho na mítica Biblioteca de Alexandria, e que se distinguiu como “autor do seu próprio catálogo (em nada menos do que 120 volumes) e como autor de tratados em prosa sobre vários temas“: ninfas, ventos, aves…

A palavra final cabe a Teócrito, com quem terá nascido o bucolismo, sentimento que tanto influenciou a poesia europeia.

Um compêndio de poesia que faz parte dos alicerces da civilização humana, aqui numa bela edição em capa dura e numa língua que, mesmo não se compreendendo uma letra sequer, dá gosto olhar.

CríticaDeus Me LivroFrederico LourençoPoesia GregaQuetzal

Pedro Miguel Silva

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