Cada estação do ano tem a sua própria cena, feita de experiências, fenómenos atmosféricos, memórias mais ou menos felizes, sabores ou objectos. “Poemas para As Quatro Estações” (Máquina de Voar, 2017), escritos por Manuela Leitão, traçam para cada uma delas uma geografia sentimental: se flores, andorinhas, frutos e passeios com o avô lembram a Primavera, uma esplanada, castelos de areia e uma grossa fatia de melancia recordam o Verão; se folhas caídas, medronhos, nozes e lendas com castanhas nos trazem os cheiros do Outono, as romãs, o azevinho, os relâmpagos e o frio espreitam pelas frestas para nos lembrar que no Inverno o melhor é mesmo andar agasalhado.
As ilustrações de Catarina Correia Marques são belíssimas, juntando, ao traço fino com ar de rotring, uma utilização expressiva das cores, em paisagens que se fundem com o elemento humano, oferecendo um sem-número de pormenores e uma atmosfera que nos atiram pelo mesmo buraco onde caiu a pequena Alice.
Graficamente o livro é um mimo, com pequenos detalhes que incluem a utilização de uma cor para cada estação, que surge no título dos poemas e nas próprias ilustrações. Poemas muito bem desenhados para cada um dos meses do calendário.
“Desculpe,
Posso fazer-lhe o pedido?…
Traga-me um dia comprido,
Em copo alto, de vidro,
Com gelado, insectos e flores.
Ponha fruta variada
– Melão, ameixas, coco ralado –
E no fundo do copo,
Não se esqueça, por favor,
Um pêssego alaranjado
Para fazer de sol-pôr.
E decore com uma sombrinha
De um azul-céu, delicado,
Só por causa do calor.“
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