Juntámos a Ficção com a Não Ficção, Portugal com o Brasil e Angola, tudo para chegar a dezena e meia de títulos que marcaram a Literatura escrita em Português neste ano de 2017.
15. “Os Corpos” | Rodrigo Magalhães
Editora: Quetzal
Pode haver na leitura de “Os Corpos” o desconforto inicial do aparente desalinho. Ainda assim, trata-se de um sacrifício da sequência e da linearidade que parece consciente e intencional, em nome da arte de enlear, de fazer e desfazer probabilidades. Uma opção que parece coerente com um autor singular, que “gosta muito da palavra não“.
(Ler Crítica)
14. “O Paraíso” | Paula de Sousa Lima
Editora: Casa das Letras
As personagens estão espantosamente bem construídas, servindo de base a uma narrativa igualmente impressionante. Toda a construção, mentalidade e gíria utilizadas enquadram na perfeição a época em que a história decorre: machista, de pensamentos arcaicos e com uma presença colossal da religião.
(Ler Crítica)
13. “A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-do-Mau-Olhado” | Gonçalo M. Tavares
Editora: Bertrand
Pode dizer-se que Gonçalo M. Tavares faz uma justaposição perfeita entre o que é a realidade e o que não é. As treze narrativas que compõem o seu novo livro são de uma ingenuidade perfeita, com passagens tão belas quanto terríveis, o que resulta numa realidade quase infantil. Crianças que procuram a mãe, uma mãe que está presa na teia de aranha, um homem malfadado que deprime com o seu fado, a invenção do cinema por incapacidade de grandes feitos, as histórias alemã e russa, a revolução industrial. Vários eventos da História estão presentes nestas histórias, como se tivessem sido coladas com papel vegetal sobre os mitos criados pelo autor.
(Ler crítica)
12. “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários” | José Eduardo Agualusa
Editora: Quetzal
Em Junho de 2015, Luaty Beirão e outros 16 activistas foram detidos em Luanda por estarem a ler uma adaptação do livro “Da Ditadura à Democracia”, de Gene Sharp, e por questionarem publicamente a liderança de José Eduardo dos Santos. José Eduardo Agualusa apropria-se deste acontecimento e faz da literatura uma arma de arremesso contra o regime angolano. Em “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários”, a poesia e a capacidade de sonhar são os instrumentos que convidam à transformação da sociedade, num livro que reabilita a tradição, mantém a esperança e soa como um desafio de peito cheio a um Estado moralmente – e outros “entes” – decadente, para além de apontar o dedo a Portugal por um silêncio envergonhado que se vai escondendo por detrás de interesses económicos.
(Ler Crítica)
11. “Para Viver Um Grande Amor” | Vinicius de Moraes
Editora: Companhia das Letras
Ler “Para viver um grande amor” é acompanhar o pensamento do autor numa época, extraindo beleza e emoção mesmo quando o assunto é o cruzamento com um grupo de jovens e a reflexão em torno da sua beleza, a leitura de um matutino e a forma como os críticos dissertam sobre a obra de outros ou a veneração perante o amor de outros reflectido nas suas obras e na sua arte. Um hino à entrega e à integridade do amor, seja ele qual for, seja ele de que tamanho for.
(Ler Crítica)
10. “Dicionário Sentimental do Adultério” | Filipa Melo
Edição: Quetzal
Ainda que munido de catarse, chegados à recta final, não há como senti-la (a náusea, o vómito, o riso) desde o início. Talvez Filipa Melo tenha conseguido o feito de se rir de si mesma e dos seus demónios, ou, dos de alguém chegado (já que o elefante na sala é domesticado por toda a gente, seja por pensamentos e palavras, actos ou omissões.) Nisto, fixou em texto o maior desabafo-subtexto da história da literatura portuguesa. Mas especulamos. Às tantas isto é só trabalho de repórter aliado ao rigor académico e aos passos rebeldes num mundo que ensandeceu à pála desse mesmo rigor e integridade moral. O dicionário questiona e nós questionamos com a autora.
(Ler Crítica)
9. “O Pianista de Hotel” | Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora: Dom Quixote
A trama está urdida com uma arquitectura inteligente, que prende o leitor pelas camadas e degraus, para cima e para baixo, pelas histórias das personagens que, afinal, não se cruzam mas estiveram quase, quase numa cadência para um encontro final (Adiado? Perdido? Real?) que o autor controla até ao fim. Um livro inquietante e apaziguador, que obriga o leitor a sair da sua zona de conforto tocando-o de forma indelével.
(Ler Crítica)
8. “Menina a Caminho” | Raduan Nassar
Editora: Companhia das Letras
Esta colectânea de contos de Raduan Nassar reúne textos escritos entre 1960 e 1970, anteriormente publicados em jornais e revistas, originalmente compilados e premiados na década de 90, depois do autor ter anunciado abandonar a literatura para se dedicar à vida rural. A nova edição de “Menina a Caminho” inclui ainda dois contos e um ensaio nunca antes publicados, sendo uma excelente oportunidade para descobrir o autor brasileiro que ganhou o Prémio Camões em 2016 e que, pela reserva da sua produção, granjeou uma aura de mistério. Lê-lo é reconhecer a beleza e a simplicidade do seu pensamento e da sua escrita.
(Ler Crítica)
7. “Hoje Estarás Comigo no Paraíso” | Bruno Vieira Amaral
Editora: Quetzal
Por entre referências a W. G. Sebald, Euclides da Cunha, Vargas Llosa ou Garcia Marquez, Bruno Vieira Amaral escreve a sua história e a contada pelos outros – “Escreva isto amigo Vieira” -, devolvendo a memória e o prazer de recordar aos menos desfavorecidos, democratizando a própria existência humana – e a ideia de justiça cega – ao apontar as injustiças diárias de quem nada mais almeja do que a mera sobrevivência
(Ler Crítica)
6. “O Anjo Pornográfico” | Ruy Castro
Editora: Tinta da China
A partir de entrevistas a 125 pessoas que conheceram o escritor, Ruy Castro conta-nos a vida de um mito chamado Nelson Rodrigues, que muitos amaram e outros tantos quiseram pregar a um poste. Génio ou louco? Tarado ou púdico? Reaccionário ou revolucionário? Raivoso ou apaixonado? Ruy Castro navega entre esta dualidade numa biografia assombrosa que se lê com um prazer de todo o tamanho.
(Crítica em breve)
5. “A Queda de um Homem” | Luís Osório
Editora: Teorema
Luís Osório mantém o leitor atento a uma trama admirável, consentindo, tal como os maiores realizadores cinematográficos, todas as interpretações na narrativa, exigindo ao leitor que seja tão livre a ler quanto ele o foi ao escrever.
(Ler Crítica)
4. “A Flor Amarela” | Anabela Mota Ribeiro
Edição: Quetzal
A leitura de “A Flor Amarela”, um ensaio de Anabela Mota Ribeiro, é indispensável ao leitor que se deixou imbuir pelo génio de Machado de Assis no seu singular livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (MPBC).
(Ler Crítica)
3. “O Deslumbre de Cecilia Fluss” | João Tordo
Editora: Companhia das Letras
Comecemos pelo essencial. A trilogia dos lugares sem nome, assinada por João Tordo, está entre o melhor que a literatura portuguesa nos ofereceu nos últimos vinte ou trinta anos. Uma obra que, à vertigem da escrita, junta a magia da criação literária, construindo labirintos onde, depois de se derrotar o Minotauro, se sai do outro lado em estado de Nirvana.E será também de olhos vendados, entre os ensinamentos budistas – e uma certa atmosfera Siddharthiana – e a descrença nas vivências humanas, que acompanharemos um homem no resgate de si próprio, aceitando a finitude e descobrindo aquilo que nos une enquanto seres humanos. No final, quando todas as peças se encaixam, restará ao leitor agradecer a João Tordo por esta deslumbrante epifania.
(Ler Crítica)
2. “Viagem ao Sonho Americano” | Isabel Lucas
Editora: Companhia das Letras
Um livro que está entre o jornalismo old school feito à séria e uma escrita perfumada e inspirada por quem tem, com a literatura, uma relação de amor louco há já muitos calendários. Para o leitor, trata-se de um verdadeiro festim. Ao mesmo tempo que lhe são apresentados alguns dos mais incríveis autores e romances americanos, é-lhe igualmente servido um guia geográfico e sentimental de um país à beira de um inesperado cataclismo eleitoral, sempre com a literatura a servir de bandeira e motivo para pôr o conta-quilómetros a correr.
(Ler Crítica)
1. “Jalan Jalan” | Afonso Cruz
Editora: Companhia das Letras
Filosofia em estado indie, poesia em ponto de rebuçado, literatura com o espírito de As Mil e Uma Noites. Com “Jalan Jalan”, Afonso Cruz faz da literatura uma experiência religiosa onde até os mais ateus se irão benzer, mostrando o mundo através dos seus olhos, dos escritores e filósofos que o marcaram e das pessoas com quem se cruzou nas suas viagens – físicas e mentais – pelo planeta. Tudo isto enquanto nos convida a uma reflexão interior de proporções épicas. Livro do ano.
(Crítica em breve)
2 Commentários
As listas são sempre pessoais e valem o que valem, como se costuma dizer, mas espero não ofendê-los ao constatar que é uma lista que pouco ou nada arrisca. Autores e editores do costume, a jogar pelo seguro, ou talvez derivados já de uma ambientação e pré-formatação a esses autores e editores. Só assim se explicam algumas escolhas, nomeadamente a da filosofia de pacotilha de Afonso Cruz como livro do ano.
Ai tantos livros que quero ler! Belíssima seleção.