Poderá uma cidade ser (re)construída a partir da literatura, com casas de telhados da cor dos dias de sol, muralhas tão altas quanto a imaginação das crianças, árvores com ramos nos quais o vento possa deitar-se e descansar ou campos onde se possam cultivar, além de batatas e morangos, beijos, rebuçados e sonhos?
Foi este o sonho de um jovem tornado rei, de uma terra que tremeu e levou consigo muitos dos seus habitantes e animais, que escapou por se encontrar sozinho na biblioteca do palácio, onde “tinha aprendido a desviar-se dos acidentes naturais num livro de histórias para adormecer“.
Ao reino acorrem os mais célebres pintores, pedreiros, arquitectos, engenheiros, botânicos, zoólogos e agricultores que, mesmo trabalhando de sol a sol, não parecem conseguir dar conta de tamanha demanda. Até que um dia, mesmo com medo de acabarem com a cabeça no cepo, decidem confrontar o rei sobre o seu projecto para a cidade.
Em “Os Livros do Rei” (Alfaguara, 2017), um rei aprende que nem sempre se podem transpor os melhores sonhos para a realidade, mas também que sem estes o mundo ficaria um lugar menos bonito e, sobretudo, menos poético e imaginativo. Mas, também, que um reino, uma cidade ou um país devem ser construídos de acordo com a opinião de muitos e não apenas de quem usa a coroa – terá também este pequeno rei lido sobre a ideia de República? As ilustrações de Gonçalo Viana mergulham em cor e nadam em geometria, ajudando a construir num Lego alternativo todo o imaginário sonhado por David Machado.
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