Foi há mais de meio século que Hitler e Estaline se finaram, mas as suas sombras nunca se foram verdadeiramente embora num mundo moderno cada vez mais a piscar o olho à turbulência social. Presidiram ambos aos regimes mais destrutivos e letais da história, sendo responsáveis pelo assassinato de milhões de seres humanos.
Em “Ditadores” (Bertrand, 2016 – Reedição), Richard Overy propõe uma nova abordagem na análise histórica, que faça o caminho do indivíduo para a sociedade: “Há muito tempo que se vem tornando necessário escrever a história dessas duas ditaduras a partir de perspectivas nas quais os dois ditadores que lhe são centrais desempenham um papel pequeno e periférico“.
Overy defende uma história que integre as sociedades que os criaram e que explore a dinâmica que esta manteve com a ditadura, lançando um olhar mais global sobre a culpa: “Quanto mais sabemos acerca da periferia, mais claro se torna que o centro foi bem-sucedido apenas na medida em que uma parte considerável da população aceitou e colaborou com os dois sistemas, ou organizou a sua vida de modo a evitar o mais possível todo o contacto directo com os perigosos poderes do estado, ou deu a sua aprovação aos propósitos morais das ditaduras ou aplaudiu os seus feitos” – algo que, assim de repente, nos põe a imaginar como seria interessante uma conversa de café entre Overy e Jonathan Littell, o autor de “As Benevolentes”. Um novo olhar que apenas foi possível, para além da sempre necessária distância temporal e mudança de foco, pela abertura de arquivos à consulta pública.
Vistos como “demónios gémeos do século XX“, as ditaduras de ambos partilharam a mesma ideia de totalitarismo, assumindo um abismo comum entre o desiderato declarado pelo estado e a realidade social. Em “Ditadores”, Overy faz uma comparação histórica directa entre ambas as sociedades, iniciando a sua abordagem com a ascensão ao poder e terminando com a guerra, abordando entre esses dois extremos uma série de temas centrais, menos focados na política externa e no desenrolar do conflito militar, que tentar responder a questões como: Como foram possíveis estas ditaduras? Como funcionaram? Que laço unia de modo tão poderoso o ditador e o seu povo? Com a adição de mapas, fotos e uma extensa bibliografia, “Os Ditadores” apresenta uma pertinente análise do poder na sua vertente mais negra.
Richard Overy é um historiador britânico com extensa obra publicada sobre a Segunda Guerra Mundial e o Terceiro Reich. Membro da Royal Historical Society, da Academia Britânica e do King’s College, foi distinguido em 2011 com o Prémio Samuel Eliot Morison pela Royal Historical Society. Em 2007, enquanto editor da colecção Complete History of the World, coube-lhe escolher as 50 datas mais marcantes da história da Humanidade.
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