“E Conan, quando foi que o descobri? Como a maioria dos fãs, deveu-se às bandas desenhadas da Marvel e não aos contos de Robert E. Howard”. Quem o diz é Luís Corte Real, que assina o prefácio de “Os Contos Mais Épicos de Conan” (Saída de Emergência, 2021), mais uma edição de luxo da Saída de Emergência que reúne, em capa dura, 13 contos do autor norte-americano, ilustrados por 23 artistas nacionais.
Se a banda-desenhada com arte de Alfredo Alcala apresentava “a força bruta do traço, pleno de beleza e rasgo”, recebendo do prefaciador o epíteto de “Gustave Doré dos comics”, Corte Real recorda o momento em que passou dos quadradinhos para a prosa: “Bastaram algumas páginas para me apaixonar pelo estilo explosivo, as histórias vívidas, os enredos coloridos e as personagens maiores do que a vida”, de um autor que ficou para a história como o pai do género sword & sorcery.
Robert E. Howard (1906-1936) nasceu no estado do Texas, “num ambiente que rapidamente o pôs em contacto com o mundo da violência e da criminalidade, em particular devido aos problemas sociais que rodeavam a exploração de petróleo na região; ao seu redor, espalhavam-se as nefastas teias do crime, da droga, da bebida e do jogo”. Palavras agora de António Monteiro, a quem coube escrevinhar o texto de apresentação a esta colectânea.
Do pai, Howard terá herdado o interesse em aspectos espirituais e místicos, pai que praticava ioga, hipnotismo e tinha uma bibliografia sobre o misticismo hindu. Entre os fãs confessos de Howard estiveram gente como Lovecraft ou Stephen King, rendidos à forma como conseguiu fundir elementos de fantasia e terror com outros mais habituais em livros de romance a aventura – ou dos universos da mitologia ou da História.
Kull, o bárbaro que assume o protagonismo de “The Shadow Kingdom”, foi o antecessor de Conan, tendo sido a partir da sua criação que Howard tomou a decisão de abandonar o emprego para se dedicar à escrita a tempo inteiro. Regressando a Lovecraft, este considerava que a civilização seria o destino e a finalidade última a que o ser humano se deveria entregar. Já Howard, menos crédulo, juntava a barbárie à equação, vendo-a com algo inato e não eliminável da condição humana.
A primeira aventura de Conan, que tem lugar – como todas as histórias deste bárbaro – na mítica era Hiboriana, teve lugar em 1932 na revista Weird Tales, com a história The Phoenix on the Sword, que abre esta colectânea da Saída de Emergência. Até 1936 foram publicadas, na mesma revista, outras 17 histórias. Robert E. Howard viria a suicidar-se a 11 de Junho de 1936, com apenas 30 anos de idade. Durante a sua curta existência, escreveu mais de 300 histórias e 500 poemas. Tempo agora para descobrir esta personagem que, para muitos, vivia apenas no universo dos quadradinhos – ou nos filmes protagonizados, na grande tela, por Arnold Schwarzenegger -, e que Howard descreve, a dado momento, desta forma: “…o cimério, de cabelos negros e olhos sombrios, empunhando a espada, um ladrão, salteador, assassino, com gigantesca melancolia e gigantesco júbilo, para pisar os tronos adornados de jóias da Terra sob os seus pés calçados de sandálias”.
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