Levou para casa uma Caldecott Medal, e bastará abrir a primeira página de “Olá, Farol” (Fábula, 2020) para nos sentirmos perdidos em mar alto: um farol erguido “no rochedo mais alto de uma minúscula ilha”, guiando um navio que se aproxima, num mar pintado em tons de verde, azul e rosa que parece ser feito de escamas.
Bem menos assustador que o filme “The Lightouse”, assistimos à chegada de um novo faroleiro para substituir o antigo, entregando-se a tarefas como limpar as lentes, acrescentar petróleo ou aparar a ponta queimada de um pavio.
Para se entreter, “escreve no diário do farol, cose à mão e escuta o vento que se levanta lá fora”. Ou pesca um bacalhau à janela, escrevendo cartas e trauteando músicas para combater a solidão.
As ilustrações captam de forma sublime uma história que tem a vida e o mundo inteiro lá dentro: a solidão com que todos deveremos saber viver e apreciar, os caprichos e a violência da natureza, a mudança das estações, as cores diversas do amor, a entreajuda, o cuidar de, a mudança, o crescimento, a renovação e a memória.
Para o final estão reservadas duas páginas que nos contam muitas coisas sobre os faróis, escrita na primeira pessoa pela autora e ilustradora Sophie Blackall, que diz adorá-los desde sempre. Numa feira de velharias, descobriu uma gravura que mostrava o interior de um farol – há uma ilustração neste livro que de certa forma a recria, e que mostramos acima -, e deu por si a imaginar como seria viver dentro de divisões minúsculas a milhas e milhas da costa. O resultado foi um livro que representa uma belíssima homenagem a uma profissão que foi essencial nos mares até cerca de 1920.
Sem Comentários