E eis que, ao 28º volume de As Aventuras de Blake e Mortimer, Jean Van Hamme decidiu imaginar uma continuação para aquele que foi o álbum inaugural da série criada por Edgar P. Jacobs.
O cenário de “O Último Espadão” (Asa, 2021) é o habitual numa aventura desta dupla: algures numa estrada em Inglaterra, um veículo dirige-se para o aeroporto transportando o major Rupert Humbletweed, a quem foi confiada uma missão secreta; no Centaur Club, o capitão Francis Blake ataca, na companhia do seu bestie Professor Philip Mortimer, um roastbeef bem passado, a quem entrega uma missão de alta monta – dar um salto ao Paquistão para alterar o código de activação dos Espadões estacionados na base de Makran, de forma a surripiá-los para Inglaterra; quanto a Blake, depois de largar a missão em cima de Mortimer, arranca de imediato para o Ulster, seguindo a informação de que o IRA está a preparar um ataque contra Inglaterra. Para quem não sabe, os Espadões foram criados pelo professor Mortimer, e levaram os pilotos ingleses à vitória sobre as hordas do tirano Basam-Damdu.
Na boa companhia de Teun Berserik e Peter Van Dongen, Jean Van Hamme inventou uma história onde há danos colaterais, execuções sem piedade, alimento alternativo para tubarões, brindes com schnaps, vivas à monarquia e twists suficientes para porem a cabeça do leitor à roda. Ponham Sex Pistols a tocar bem alto e deliciem-se com esta sequela (ainda que não seja necessário, o melhor será ler primeiro o livro inaugural da série).
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Jean Van Hamme nasceu em Bruxelas (Bélgica), em 1939. Depois de uma brilhante carreira internacional como engenheiro comercial, decide em 1976 passar a viver da sua escrita, renovando desde logo todos os géneros da chamada “BD clássica” e acumulando sucesso atrás de sucesso. Ao longo dos anos cria a saga Thorgal para Rosinski, depois XIII para Vance, Les Maîtres de l’orge para Vallès, Wayne Shelton para Denayer e Lady S para Aymond, e inicia o relançamento de Blake et Mortimer. Em 1989 cruza-se com Philippe Francq, que lhe confiou a personagem Largo Winch.
Teun Berserik, nascido no seio de uma família de artistas nos Países Baixos, demorou algum tempo a enveredar pelo mundo artístico. Com efeito, foi só depois de ter gerido durante doze anos uma oficina especializada em carros anteriores a 1940 que a musa do desenho lhe bateu por fim à porta. Em resultado disso, para além de ilustrações para manuais escolares de várias disciplinas (biologia, história…), bem como alguns trabalhos de publicidade e desenhos animados, Teun Berserik executa atualmente bandas desenhadas (por vezes didáticas) para crianças, adolescentes e adultos. A sua banda desenhada dedicada aos primeiros anos de Van Gogh (intitulada justamente Vincent Van Gogh e publicado em 2012) recebeu em 2013 o Prémio para a Melhor BD da Het Stripschap (Associação de Banda Desenhada dos Países Baixos). Desde 2000 que se dedica à pintura, tendo participado em diversas exposições tanto como membro do Pulchri Studio como do Haagse Kunstkring. Executa além disso pinturas murais, sendo que uma das maiores, com 4,5m x 24m, está exposta no Museu da Guerra de Overloon (Países Baixos).
Peter Van Dongen, autor de banda desenhada e ilustrador, viu o prémio neerlandês de BD Stripschap ser sucessivamente atribuído ao seu primeiro álbum Muizentheater (Teatro de Ratos), publicado em 1990, e à sua banda desenhada em dois volumes Rampokan, lançada em 1998 e 2004. Esta última – que o tornou conhecido internacionalmente – desenrola-se durante a guerra da independência da Indonésia, em 1946, e tem como herói o militar holandês Johan Knevel, que regressa ao país da sua infância para aí encontrar um mundo em vias de desaparecimento. O díptico Rampokan, traduzido em francês, alemão, indonésio e inglês, foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prix du Lion em 1999, em Bruxelas. Em 2013, a pedido da marca de roupa Gant International, Van Dongen desenha o álbum Drie dagen in Rio (Três Dias no Rio), que narra a infância do fundador da marca, Lennart Björk. Em março de 2018, Van Dongen recebeu o Prémio Stripschap pelo conjunto da sua obra.
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