No thriller psicológico “O Som da Mentira” (Singular, 2025) é-nos dada a conhecer a história de Lucy Chase, uma protagonista envolta em mistério e controvérsia, encontrada há cinco anos coberta de sangue e sem memória do que terá acontecido à sua melhor amiga, Savannah.
Lucy foi considerada a principal suspeita do homicídio – e dada como culpada pela generalidade das pessoas da sua pequena cidade, no estado do Texas -, mas nunca foi acusada por falta de provas. Depois de refazer a sua vida em Los Angeles, o lançamento de um podcast de true crime traz novamente a história para a ribalta, com o objectivo de conseguir desvendar o mistério que ficou por resolver.
Ao longo das cerca de 350 páginas do livro, Amy Tintera imprime à narrativa um ritmo envolvente e constrói complexas personagens, cujas diversas camadas vão sendo dadas a conhecer ao longo da história. Figurando como uma espécie de anti-heroína com um sentido de humor mordaz e sarcástico, Lucy trava uma luta interna entre a dúvida e a procura pela verdade, que mantém o leitor intrigado. Na verdade, o leitor é constantemente desafiado a questionar se Lucy é, de facto, uma vítima da própria mente que um eventual trauma não deixa recordar, ou se há algo de obscuro que ela prefere esquecer. Uma abordagem que cria uma tensão psicológica crescente, que vai tornando a leitura viciante.

Embora utilize alguns clichés do género – como a protagonista com amnésia ou a investigação de um crime que ficou por resolver -, ao explorar e interligar temas como o trauma psicológico, a dinâmica das pequenas comunidades, o poder dos media ou os efeitos da opinião pública nas vidas pessoais de cada um, Amy Tintera consegue dar alguma originalidade à história. Uma originalidade para a contribui também a inclusão do podcast, cujos episódios vão sendo lançados e “transcritos” ao longo da história, o que adiciona uma camada de relevância moderna à trama. Outros temas, como a violência doméstica e a manipulação psicológica, são também abordados. O desfecho, embora não totalmente inesperado, é bem executado, deixando margem para a reflexão sobre as complexidades da memória ou as pessoas e as suas personalidades.
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