“O rosto humano sempre foi a minha paisagem preferida”. A frase pertence a Sidonie Gabrielle Colette (1873-1954), ou simplesmente Colette como se acostumou a ser chamada, criadora de personagens icónicas e romances memoráveis que desafiaram convenções estabelecidas da sociedade francesa de finais do século XIX, início do século XX.
Férrea defensora da escrita, da vida e do amor sem entraves, a sua escrita irónica e perspicaz valeu-lhe rasgados elogios de figuras como Marcel Proust e André Guide, bem como a honra de ser a primeira mulher a presidir à Academia Goncourt e, igualmente, a primeira mulher a ter honras de funeral de estado.
Do seu universo envolvente e dos amigos e amantes que coleccionou, em plena Belle Époque, nasceu a inspiração para “Quépi e Outros Contos” (Antígona, 2019), uma colectânea de alguns dos seus melhores contos, que mostram as peculiares faces das “relações entre os seres”. Desde o militar cinquentão que se apaixona por uma Lousitte “Lolita” camponesa, o pacato homem das burocracias com fascínio por chacinar pássaros no meio da noite, à estalajadeira que, no final de contas, era um estalajadeiro; passando pela mulher solitária e reprimida que, aos quarenta anos, descobre os mistérios do amor com um amante muito mais jovem, esta miscelânea de contos, qual manta de retalhos, é a companhia perfeita para uma tarde fria de inverno junto à lareira, seja com um copo de vinho, chá ou um conhaque (muito à moda de Colette). Um pequeno aperitivo que sabe a pouco e nos deixa com água na boca para descobrir mais sobre a obra desta mulher que enfeitiçou Paris e se soube reinventar até ao fim dos seus dias.
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