“Talvez este seja um livro de geografia. Afinal, o insulto é a última fronteira. Eis o ponto em que a corda da linguagem se estica, e, já só por um fio, permanecemos ainda no território da ordem. Um passo mais e a linguagem esgota-se, restando então os punhos ou a escolha das armas (…)”
“O Pequeno Livro dos Grandes Insultos” (Guerra e Paz, 2018) é um livro que incide, com algum humor, sobre o palavrão, a palavra que é um duro e cruel disfemismo de uma linguagem “que não deve ser linguagem”, com a qual de desfazem muitos sonhos e destroem muitas reputações – e, mesmo, muitos egos. No dicionário, o insulto é sinónimo de palavra com acentuado significado ofensivo e agressivo, susceptível de magoar profundamente a pessoa à qual este é dirigido, normalmente demonstrativo de desprezo, grosseria e (por vezes obscena) desconsideração.
O autor faz do palavrão o objecto da obra, que apresenta e explica o vernáculo sem quaisquer inibições morais e dando cabo de todos os tabus sobre a utilização dos mesmos num livro, chegando a juntar os mais impressionantes e obscenos palavrões do léxico “mais escondido” da língua portuguesa.
No primeiro capítulo, Manuel S. Fonseca faz uma sistematização de insultos inseridos no calão mais genuíno num (nas palavras do Autor) “irrecomendável capítulo sobre os mais soezes insultos que se podem ouvir(…)”, que contém a descrição dos palavrões – ou seja, traduz exactamente o que se pretende figurar e atingir com eles. Dando ainda diversos sinónimos dos mesmos. Tratados num tom de irreverência estão aqui os grandes insultos – aqueles que apenas se usam para “ferir de morte alguém”.
No segundo e terceiro capítulos, explicitam-se não só frases de calão idiomático como, também, as lengalengas idiomáticas e, nos dois últimos e curtos capítulos, temos os disfemismos linguísticos e o acervo dos insultos mais usados (e ousados!) do Mundo, tais como os insultos americanos, chineses, catalães ou finlandeses.
Quando fechamos o livro é interessante pensar que houve alguém que, com seriedade, inventariou num livro de cor encarnada e quase de bolso um léxico de vernáculo duro e cruel, mas afinal palavras que, tal como todas as outras, são sinais convencionais de comunicação – mas que, pelo sentido e significado que têm, são verdadeiramente incómodas.
2 Commentários
Obrigado pela sua leitura. Clara e concisa. Manter um permanente sentido de humor foi a minha maior preocupação. Que o seu Deus me Livro se mantenha sempre vivo.
Obrigado 🙂