Abrir a gaveta e facilmente encontrar uma panóplia de meias parece ser um acto de grande simplicidade e desprovido de emoção. Uma ideia que se vê completamente contrariada no dia que a ira nos invade ao vasculhamos a cesta das meias, à procura de uma meia-par. Estará na cesta da roupa suja? Ou no cesto da roupa descasada? No estendal? Continuamos a busca e revolvemos as gavetas. Abrimos, fechamos e voltamos a abrir as gavetas. Encontramos as meias curtas, as meias de ligas, as meias-soquetes, as meias lisas, às riscas ou às bolas, até as meias de descanso, mas não a meia-par. Por onde andará a meia desaparecida?
“O Mistério da Meia Desaparecida” (Tcharan, 2020) conta-nos a história de uma meia, de seu nome Meia Amarelada, que perdeu a sua meia-par. “Sempre vivera emparelhada com outra meia amarelada, mas, um dia, no meio de uma lavagem mais agitada, perdeu a sua companheira”. Será que a meia-par amarelada ficará desamparada para sempre? Terá sido um feitiço? Mesmo sentindo-se a ficar derrotada, a Meia Amarelada não irá desistir: o mistério tem de ser resolvido.
O texto de Vitória Alves recorre a frases curtas e simples e joga com aliterações, dando visibilidade ao lúdico e convidando o jovem leitor a pensar na aceitação da(s) diferença(s) e no valor da perseverança.
Sandra Sofia Santos, a ilustradora, usa uma paleta de cores fortes, destacando-se o amarelo, a cor da meia desaparecida, o vermelho, representando a paixão pelo par de meias, ou o verde, símbolo da esperança do reencontro. O traço curvilíneo oferece ao leitor a ideia de inquietação, movimento, agitação. Um livro muito divertido, vencedor do Concurso Lusófono da Trofa 2019 – Prémio Matilde Rosa Araújo.
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