Publicado pela primeira vez no ano de 1939, “O Livro dos Gatos Práticos do Velho Gambá” (Assírio & Alvim, 2019) reúne o famoso conjunto de poemas sobre gatos que T.S. Eliot foi escrevendo, durante a década de 1930, para os seus afilhados sob a forma de cartas. Segundo rezam as crónicas, foram estes os poemas que serviram de inspiração a Cats, o famoso musical composto por Andrew Lloyd Webber que teima em não sair de cena – ou da caixa de areia.
O livro chegou no ano passado às livrarias com o selo da Assírio & Alvim, numa belíssima edição bilingue – português e inglês – de capa dura e em formato de bolso, que contém as ilustrações originais de Edward Gorey.
São poemas carregados de musicalidade, onde se percebe que “dar nome ao gato é obra, não é adquirido”, se aprende “música, renda, croché” ou se assiste ao último miar do Tigrunho, “de modos pouco amigos e de olhar amargo” – uma espécie de Jack Sparrow da gataria.
Por entre estes versos, somos apresentados a personagens tão diversas quanto o Gato Rão Tão Estrião, que como António Variações só está bem onde não está; Mungojerrie e Rumpelteazer, dupla esmerada de “palhaços chalupas, funâmbulos e acrobatas, cómicos manhosos”; o Velho Deuterónimo, uma verdadeiro Don Juan cuja “vasta prole floresce como uvas”; os Pequis e os Canitos, que encenam na Gataria uma versão muito própria de Capuletos e Montéquios; o Sr. Mefistófoles, ilusionista singular, que “tem as patentes todas que há na praça/de ilusões e números de espantar/de criações e truques de enganar”; ou a Bustopher Jones, o Gato Citadino, um tio que “não vai a pubs ou bares – é mais clubs e dançares”. Uma pequena preciosidade para ler com um pires de leite e umas bolachinhas por perto.
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