O género policial/thriller contemporâneo tem sido profícuo em apresentar novas personagens para a tríade elementar deste estilo literário: o criminoso, a vítima e o detective. Em “O Ladrão de Tatuagens” (Bertrand Editora, 2020), de Alison Belsham, é-nos apresentado Francis Sullivan, um jovem inspector recém-promovido, com alguma candura (ruboriza com alguma facilidade) e uma boa dose de ingenuidade, própria dos iniciantes – mas não menos ambicioso e combativo. Nesta sua primeira investigação, irá fazer dupla com uma parceira muito pouco provável: Marni Mullins, uma tatuadora que nos introduz a este universo, dando a conhecer alguma da complexidade e significados associados a esta decoração/representação do corpo.
Para além da complexidade psicológica associada às personagens – os seus medos, as histórias passadas que continuam a ensombrar o presente -, temos acesso a um ambiente bem particular dos tatuadores e das tatuagens, dos preconceitos e estereótipos que lhe estão associados, e da perspectiva terapêutica que não é conhecida dos comuns não tatuados.
Na linha da actual caracterização realista dos serviços de polícia, não faltam o chefe obtuso e um candidato a ocupar o lugar de Francis assim que ocorra o seu primeiro deslize. Já não existe o culto dos detectives amadores e profissionais clássicos, mas continua a existir o herói, que consegue o melhor exercício de raciocínio lógico e dedução, mesmo que apoiado na medicina legal – e Francis é um excelente candidato, com um potencial prometedor, apenas precisando de um bom empurrão emocional para saltar para a frente de combate.
Através das narrativas paralelas, relativas à prática dos crimes e ao percurso da investigação, a expectativa em dose dupla não é grande, é enorme, deixando-nos pregados à leitura com vontade de não parar até à redenção final. Missão cumprida.
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