A caminhada como liberdade. Este poderia bem ser o lema escolhido por Jiro Taniguchi para a sua obra, ele que, segundo alguns, será talvez o mais europeu de todos os desenhadores nipónicos.
Em “O Homem que Passeia” (Devir, 2017) acompanhamos, por entre muitos silêncios e diálogos parcos mas intensos, a vida de um homem citadino e a sua relação com os subúrbios, por onde se passeia devagar, contemplando, observando, cheirando, tomando o pulso ao quase invisível e redescobrindo a natureza e as pequenas e fundamentais coisas da vida.
Estamos muito perto daquilo que Bashô conseguiu criar com os haikus. Porém, a poesia e a vida resumida em três linhas cede aqui lugar a desenhos que são versos (quase) sem palavras. Os diálogos existem mas não para preencher o vazio, antes para o complementar, revelando toda a poesia que existe na banalidade do quotidiano.
Para o final está reservada uma cereja: uma entrevista a Jiro Taniguchi feita por Jean-Philippe Toussaint, onde o ilustrador nipónico fala de si e da sua maneira de desenhar a vida: “Acredito que os homens e os animais são essencialmente seres tranquilos para quem uma certa reserva, uma certa moderação, são meios de sobrevivência. Na vida quotidiana, não vemos frequentemente pessoas a gritar e chorar rolando-se pelo chão. Se os meus mangás têm algo de asiático, é talvez porque, mais do que interessar-me pelos meandros de uma história, eu me tento aproximar o mais possível da realidade dos sentimentos das personagens. Se aprofundarmos a realidade, uma história pode surgir mesmo nos menores e mais banais acontecimentos do quotidiano. É a partir desses momentos ínfimos que crio os meus mangás“. Um dos grandes lançamentos do ano em Portugal no que toca à banda desenhada.
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