Emotivo, leve e encantador, assim é “O Homem que Passeava Livros” (Lua de Papel, 2022). Entre as suas quase 200 páginas, esta obra dá-nos a conhecer um velho livreiro e uma menina irreverente, dois seres solitários que se unem em torno de histórias singulares.
Faça chuva ou faça sol, todas as tardes o livreiro Carl coloca às costas uma mochila cheia de livros e percorre a cidade para os entregar. O peso das letras que carrega é o que lhe dá vida. Dedica-se, de corpo e alma, aos livros e aos seus clientes habituais (clientes esses a quem atribuiu nomes de personagens literários), escuta as suas palavras e sabe os seus gostos, ainda que desconheça parte da sua essência.
Schascha, uma jovem irreverente de apenas 9 anos, junta-se a Carl nas suas entregas e altera o rumo da sua vida. Vestida de rebeldia e sinceridade, Schascha lê nos rostos dos leitores as suas preocupações e tristezas, sugerindo-lhes novos livros mais alegres que, apesar de contradizerem os seus pedidos, lhes dão novas perspectivas e alegrias.
Esta bela e doce obra fala-nos do poder dos livros e da forma como estes dão vida às vidas de quem os lê. Os livros salvam os leitores do abismo e da solidão, são portos de abrigos e fugas da realidade. Todavia, não existe um livro que faça todos felizes, um livro perfeito que satisfaça todas as almas. Este livro demonstra que nenhuma leitura é menos do que outra, sendo que a cada indivíduo se adequa um livro. O ser humano não tem o poder de decidir o dia em que parte, nem o dia em que nasce, mas tem o direito e o dever de escolher um livro que o faça inteiramente feliz – e é esta uma das mensagens principais deste romance.
Dar livros é oferecer novas oportunidades, novas visões, é abraçar alguém sem a sufocar fisicamente, é estar presente sem estar. Tendemos a recordar-nos sempre de quem nos deu tal livro porque, de certa forma, ou a pessoa demonstra conhecer-nos e nos oferece parte de nós, ou arrisca e nos dá parte de si.
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