É um daqueles livros que apetece oferecer como prenda, e que junta, a edição numa sempre apetecível capa dura com folhas cozidas com esmero, a ilustrações que, balançando num trapézio oriental, nos trazem uma dupla animal muito dada a tiradas existenciais: “O Grande Panda e o Pequeno Dragão” (Suma de Letras, 2021).
No posfácio, James Norbury recorda uma fase complicada por que passou, que mudou quando encontrou um livro sobre o Budismo num alfarrabista. A partir daí decidiu conhecer mais sobre espiritualidade e meditação, libertando-se da negatividade e juntando-se à Samaritans, onde conversou telefonicamente com “pessoas que procuravam ajuda na sua solidão, ansiedade e depressão”. Tendo a Covid refreado a sua decisão de iniciar um pequeno grupo de apoio na sua zona de residência, Norbury virou agulhas para o desenho, comunicando desta forma ideias transformadoras através de imagens.
Trata-se de uma volta completa às quatro estações do ano, que começa com uma interrogação do Grande Panda, incerto sobre aquilo que será mais importante: a viagem ou o destino. Cabe então ao Pequeno Dragão, com cerca de um décimo do tamanho do Panda, responder à missiva: a companhia.
Cada página apresenta uma vinheta independente, com mantras de vida ou diálogos existenciais inspirados na filosofia oriental, onde há também rasgos de humor. A natureza está em grande destaque, numa bem balançada alternância entre o preto e branco e a cor. Há mantras supimpas como “Uma cerejeira não se compara com outras árvores. Limita-se a florir”, mas também outros que poderiam definir uma saída numa sexta-feira à noite: “Por vezes, temos apenas de fazer disparates”.
Cometem-se erros, incita-se à mudança, aprende-se a escutar, aprecia-se a beleza da imperfeição, coloca-se a possibilidade de desistir para recomeçar melhor, partilha-se uma amizade que, entre muitas outras coisas, nos mostra que “o tempo em que fazemos nada nunca é tempo perdido”. Uma delícia.
Nota: as imagens são da edição inglesa.
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